
O Palerma tinha a vida entregue. Morava num terceiro andar da rua das Gáveas, entre um polícia e unha puta da rua. A puta, fazia-lhe uma caridade semanal e o polícia arrecadáva-lhe duzentos euros mensais, por acompanhá-lo nos seus passeios. A comida era-lhe servida pela vizinha do rés-do-chao; uma minhota de Monçao que trabalhava onde a aceitavam. Uma prima longínqua, fazia-lhe as contas e levava-o a sua casa pelo Natal. Era feliz. Uma manha de Inverno acordou com azia: pensou que lhe ardia o estômago. Meteu-se no chuveiro. Deixou cair água. O ardor nao abrandava. A água transbordou. Foi inundando a casa. A vizinha do segundo andar centro, uma rameira reformada da funçao pública, cheia de veneno, começou aos berros. Veio para a janela. A rua das Gáveas entrou em histeria. Chegaram os Bombeiros. Apareceu o polícia. A puta da caridade, acababa de fazer um serviço, correu, com o saquinho das ferramentas laborais a fazer remoinho, a abrir a porta. O polícia, pretendia abri-la ao pontapé. A torrente de água saída da casa de banho fez cambalear o polícia, enquanto a puta, de gatas, se dirixia à da casa de banho. O Palerma cantava a sua cançao a Desfolhada. Os Bombeiros, martelaram a janela e entraram pela cozinha. O Palerma, quando viu entrar a puta na casa de banho toda arregaçada, pensou que lhe tocava a caridade semanal. Aplaudiu com entusiasmo. A puta fechou a água, enquanto o Palerma exclamou: -“HOJE SOMOS TODOS AO MESMO TEMPO ? ! .” Fez-se silêncio. A vizinha do segundo andar centro, continuava aos berros. Estava possessa. O Palerma, deixou de sentir azia. Saiu da duche. Viu o panorama. Alegrou-se; pensou que a sua casa se transformara numa piscina. O polícia telefonou para a prima. A puta vestiu-o. Os Bombeiros secaram a água. A prima respondeu que estava na hora de fazer as compras. O polícia telefonou para o Julio de Matos. A puta agredíu o polícia com um chapéu-de-chuva. O Palerma voltou à casa de banho, para urinar. A vizinha do segundo deixou de berrar. A brigada do Julio de Matos, confundíu-a com o Palerma. Acordou amarrada num quarto insonorizado do Júlio de Matos. O polícia foi curar-se à farmácia. A puta ficou com o Palerma. Arrumou a casa. Fez o almoço. Lavou a loiça e durante a tarde, fez-lhe a caridade com parcimónia.
JOSÉ LUÍS MONTERO
