
E as aldeias e villorios aumentam a cada instânte, agloméram-se e precipitam-se. com as suas ruas estreitas e limpas, as suas casas de tixôlo queimado, os telhados de pizarra e telha. Os caminhos carreteiros som largos, e o pavimento, duro e compacto, ressoa ao passo da pesada carreta, tirada por um maxestuoso percheirón, que arrasta sem esforço quatro grandes pedras de construcçón, com os seus números roxos. Logo, túneis, pontes, viaductos, ruas largas, aireadas, grande número de trabalhadores, movimento e vida. Estamos em París. Ó meiodía, unha visita aos velhos amigos queridos, que esperam doce e pacientemente e que, para receber-nos, tomam a sonrisa da Xioconda, envoltos em tules luminosos da Concepçón, ou despoxando-se das suas roupas, obstentam as carnes deslumbrantes de Rubens. Ao Louvre, ao Luxemburgo; um dia o mármore, outro a cor, um dia à Grecia, outro ao Renascimento, outro ao nosso século soberbo. Mas lentamente, meus amigos; non como um condenado, que começa com a “Balsa da Medusa” e acaba com os “Monxes” de Lesueur e sái do Museo com a retina fatigada, sem saber a ponto fixo se o Españoleto pintaba Virxens; Murillo, batalhas; Rafael, paisáxes, ou Miguel Angel, pastorais. Doce, suavemente: ¿gostas dum quadro? Ninguém te apura; gozarás mais confundindo voluptuosamente os teus olhos nas suas linhas e na sua côr, que na frenética e buliciosa carreira que o guía che impón de unha sala para outra. O catálogo na mán, mas pechado; caminha lentamente polo centro dos salóns; de pronto unha cara anxélica sonrí. Mira-la devagar; tem cabelos de ouro e perfume que parece sentir-se; os olhos, claros e profundos, deixam ver no fundo os latidos tranquilos de unha alma harmoniosa. Se te retém, quédate; pensa no autor, no estado do seu espírito, quando pintou essa figura celeste, no ideal fluctuânte da sua época, e logo, volta os olhos para o íntimo do teu próprio ser, anima os recordos tímidos que ao amparo de unha vaga semelhanza asomam as suas cabeças e temendo ser importunos, non se levantam por enteiro. Logo, esquéce o quadro, a arte, e mentras a mirada se passeia inconsciente polo lenço, cruza os mares, remonta o tempo, dá renda solta à fantasia, sonha com a riqueza, a glória ou o poder, sente nos teus lábios a vibraçón do último beixo, fala com fantasmas. Somente assím pode a pintura produzir a sensaçón profunda da música; Só assím, as linhas esculturais, ondeando na gradaçón inimitábel das formas humanas, no esboço de um pescozo de mulher, nas curvas puríssimas e entre os gregos, castas, do seio, nos hombros contorneados de unha virxem de mármore ou no vigor harmónico de um efebo; Só assím, da pedra ao pracer do rítmo e a melodia. Naturalmente, a materialidade da causa limita o campo; unha cabeza de Ticiano, unha bacanal de Rubens, um interior de Rembrandt, um monxe de Zurbaran, darán unha serie de impressóns definidas, vinculadas ao tema do lenço. Heis aquí, porque o mármore e o lenço som inferiores à música, que abre horizontes infinitos, dibuxa catedrais medievais, envolve em nubens de branca luz sideral, leva nas suas ondas invissíbeis mulheres de unha beleza sonhada, convérte-vos em heróis, fai saír lágrimas dos olhos, ao cerebêlo lêva pensamentos serenos, recorre, em fím, a gama enteira e infinita da imaxinaçón…
MIGUEL CANÉ (EN VIAJE, 1881 – 1882)