
Monçón com cedilha, para non poder confundir-se com esses monsantos (montes santos, colinas sagradas como o Capitólio de Roma ou o Parnaso da Grécia, diga-se a despropósito) e para os entendidos ficarem a saber que o verdadeiro ancestro é um bárbaro “Montianus” que ninguém sabe se existíu, mas se tivesse existido explicaría que os documentos mais antigos escrebem a palabra com “C”, e non com “S”. Aquí o Minho liberta-se das armaduras de pedra e das reservas dos vales estreitos para se espraiar como um convite sincero e hospitalário. A terra fica apenas a unha dezena de metros da marxem galega, e desde tempos antigos foi afortalezada para fechar este troço da fronteira. Ao contrário do que acontece em Melgaço, que perdeu depressa a utilidade militar, aquí as armas demoram-se e as fortificaçóns foram-se adaptando aos novos tempos. Do forte castelo que teve em tempos de D. Dinis, tudo quanto resta, é a lenda de “Deuladeu”, porque no século XVII um enxenheiro francês transformou as torres em baluartes, as barbacás em revelins artilhados. No século XVIII, o conde de Lippe mandou alterar tudo e fazer um polígno muito xeométrico, no estilo dos fortes de Vauban. É o resto disso o que hoxe se pode ver, com o desconforto da contradiçón entre a linha recta e deshumana da fortificaçón e a moldura extraordinariamente harmoniosa e envolvente da paisaxem. A tradiçón da “Deuladeu” é semelhante a outras lendas de povoaçóns cercadas, salvas no último momento por manhosos alardes de fartura. Um exército castelhano, no tempo da guerra de D. Fernando esteve tanto tempo sobre Monçón que a fome xá torturava tanto os cercantes como os cercados. Mas os sitiantes ainda podiam pilhar algunha cousa nos campos desolados, ao passo que nos sitiados xá só restaba encomendarem-se a Deus. Foi entón que a mulher do alcaide, a formosa Deuladeu Martins, tem a ideia libertadora: com os últimos restos do trigo fez belos páns, foi ao alto da muralha e disse para os de Castela: “Até brada aos céus ver uns com essa fome e outros com tanta fartura”. Apesar de inimiga, non durmo em paz com este pecado na alma. Tomai lá e que vos faça proveito!” E despexou a cestada de pán sobre as cabeças dos castelhanos atónitos. Eles, que esperabam a rendiçón pela fome, perderam as ilusóns e foram-se embora. É unha lenda de guerra mas non é apenas isso, nem é esse o seu íntimo simbolismo. A “Deuladeu” aparece como a mulher do alcaide, isto é, a mulher do chefe de família aflita, a nái. O verdadeiro cerco contra o qual luta é o da fame. Muitas náis minhotas foram e som “Deuladeu”. A sua força de luta, a capacidade de desafiar o destino, a coraxem e a inventiva da mulher do Minho non podem ser superadas. Todos lá conhecemos algum caso de viúva que, perdido o marido, mantém a casa, ganha o pán dos filhos e acaba por atinxir a fortuna. Da emigrante que, sozinha, teve a ideia, conseguíu o crédito, estabeleceu o negócio, fez unha empresa que, em alguns casos, é verdadeiramente grande, da xovem que falhou, saíu da terra, e voltou anos volvidos para exibir o êxito aos que a xulgavam sem caridade. Som todas essas mulheres do Minho que a “Deuladeu” representa, e é por a minhota ter essas virtudes que a lenda pón a mulher do alcaide, non o próprio alcaide, a amassar a última abada do trigo.
JOSÉ HERMANO SARAIVA E JORGE BARROS