
O rei de Portugal, foi portanto para o Porto e mandou fazer uniformes para os homes de armas, que o acompanhavam: por cada um, um loudel de fustón branco com a cruz de San Jorge. Eram quinhentos cavaleiros; o rei vestia um traxo igual, mas de seda. Após ele iam quarenta montadas a destro, isto é, cavalos sem cavaleiro, axaezadas com os emblemas reais. Os fidalgos vinham depois com as suas mesnadas, que faziam dous milhares de homes. Chegada a data aprazada, dirixiram-se os dous aliados, com comitivas que pareciam exércitos, para o lugar marcado: ”E indo assim seu caminho da parte de aquém da Ponte do Mouro, o duque apareceu da outra parte, que vinha por apar de Melgaço, que estaba entón por Castela.” O rei atravessou a ponte e foi abraçar o aliado. Ia armado de todas as armas. Os ingleses vinham com cotas e braçais de grande gala. Depois dos cumprimentos, atravessaram os dois a ponte e vieram para as tendas que estavam na encosta e sentaram-se a comer, sem olhar a direitas nem esquerdas, etiqueta que, diz Fernán Lopes “inda entón non era em uso”. No dia seguinte xá estaba armada a grande tenda que os Portugueses tinham tomado na batalha real. Foi aí que correram as conversaçóns que terminaram polo axuste de casamento com D. Filipa de Lencastre e pola estipulaçón das condiçóns da axuda militar portuguesa na guerra que o duque de Lencastre ia fazer: unha hoste de duas mil lanças, mil besteiros e dous mil homes de pé, desde Xaneiro a Agosto do ano seguinte, em troca de grandes concessóns territoriais a Portugal na rexión fronteiriça. O duque mostrava-se xeneroso a dar o que ainda non tinha. De tudo isso, resta hoxe aquela ponte atrevida e áxil, que fez pensar num salto de lobo sobre a ravina profunda onde o Mouro, afluente do Minho, corre a espadanal com vigor num declive forte. O monumento talvez xá non dure muito mais tempo. O proprietário da fazenda ao lado perfurou a rocha do parapeito para amarrar lá os cabos de aço que sustentam todo o peso de unha extensa latada. É unha luta entre o vinho e a história: enquanto a pedra for mais pesada que as uvas, a ponte aguenta-se. Depois cai tudo, as uvas e a ponte. A Câmara de Monçao, na altura das comemoraçóns henriquinas, mandou colocar unha lexenda bem escolhida num rochedo. Por essa altura pensou-se na protecçón do local e foram prohibidas ou condicionadas as obras. Mas o tempo passa, o zelo esfría e o lugar está bem degradado, suxo e decadente. Unha antiga azenha está em ruinas. Um edifício de blocos megalíticos, que talvez fosse contemporâneo do encontro real, xá deixou afundar-se o telhado e oferece um quadro de miséria deprimente. ”Aquela casa é muito bonita. Porque non conservam o telhado?”, pergunto a um vizinho. ”Non deixam fazer obras”, diz-me. ”Non deixam?. Entón que é aquilo?” E olho para um chalé espaventoso, com um “court” de ténis empoleirado sobre os rochedos do rio, que mata inexorabelmente o conxunto do recinto histórico. ”Que é aquilo? É a força do dinheiro!” Non sei o que o vizinho quería dizer. Mas estamos em 1986: faz agora seis séculos que a aliança inglesa se concretizou ali, no meio daquela ponte. Non é um episódio de “petite histoire”: o casamento de D. Joao I, foi um factor decisivo da independência ganha em Aljubarrota.
JOSÉ HERMANO SARAIVA E JORGE BARROS