
Zaratustra sabe, como Espinosa, que “a liberdade é consciência da necessidade”. Somos libres quando comprehendemos que tudo o que encontramos neste mundo é “necessário”, isto é, non pode nem debe ser de outro modo. Quem sente “amor fati” comporta-se como um xogador que celebra de cada vez que atira os dados; ganhe ou perda, comprehende que o resultado da sua xogada tinha de ser esse e non outro. Afinal, o que o verdadeiro xogador ama non é ganhar, mas sim xogar, sentir-se ele mesmo parte do xogo. Por isso, pode dizer-se que fez as pazes com o azar. Nesta altura xá debe ser evidente por que razón é que Nietzsche considera que a “doutrina do eterno retorno” é “a mais alta fórmula de afirmaçón da vida que xamais se atinxíu”. O potencial da ideia cristaliza-se no final do capítulo chamado “Da visón e do enigma”, onde Zaratustra vê “um xovem pastor a contorcer-se, a afogar-se, em convulsón, com o rostro em agonia” por causa de “unha pesada serpe negra” que se introduziu na sua boca enquanto dormia. O xovem debate-se entre a vida e a morte, mas, seguindo as indicaçóns de Zaratustra, consegue dar unha grande dentada que arranca a cabeça à serpe. Nesse momento produz-se unha metamorfose. Xá non era “nem pastor, nem home -era um transfigurado, um iluminado, que “ria!” Nunca antes na terra tinha rido home algúm como ele riu!”. Ao matar a serpe, o pastor desactiva o paradoxo. A serpe negra simboliza o tempo circular, “o maior peso”, o pensamento mais obscuro. (O eterno retorno como um simulácro explicativo do universo que se torna asfixiante.) Ao cortar-lhe a cabeça, o pastor reconcilia-se com o destino cósmico. Embriagado polo “amor fati”, dele nasce “o riso que brota da verdade plena”. O “eterno retorno” como unha proposta ética emancipadora. Mas o pastor transfigurado ri-se de um modo estranho. Zaratustra repara que o seu riso “non é um riso de home”. É o riso do super-home.
TONI LLÁCER