TALES O MILÉSIO (KOSMOS)

Embora o fenómeno pudesse ser vivido como sinal de mau agouro, non podia ser atribuído a um dragón que comera o Sol. De facto, ainda que non tenhamos mais do que um conhecimento parcial, a natureza nos corpos celestes, como a natureza à nossa volta, responde a unha necessidade intrínseca que se traduz em movimento dos astros, em emerxência de seres, em transformaçón ou em destruiçón. A natureza non é um conglomerado díspar sem princípio de organizaçón interna, polo contrário, a variedade das cousas da natureza constitui, um mundo, um “kosmos”, termo grego para designar a ordem. Atribuir à natureza um poderoso princípio de ordenaçón interna, libertar a natureza da arbitrariedade, além de outorgar a confiança para efectuar previsóns razoáveis, abre a porta a unha pergunta: quais som esses princípios? Tem de se enfatizar o facto de que a pergunta apenas tem sentido com base na exclusón das hipóteses míticas. Se a natureza estivesse submetida aos deuses como nos poemas de Homero, os princípios da regularidade agora contemplados poderiam ser substituídos. A procura de princípios firmes apenas tem sentido porque se pressupón que eles existem. E para nos cinxirmos a um exemplo: se alguém defende que unha determinada substância constitui um invariante universal que dá suporte à imensa diversidade dos fenómenos, é porque está convencido da necessidade de haber efectivamente um invariante universal. Observaçón que me dá a oportunidade de abordar o outro aspecto polo qual Tales de Mileto é conhecido e que nos aproximará da tese propriamente ontolóxica de Tales. Por mais impressionante que possa ter sido o cálculo da altura da pirâmide aos olhos dos sacerdotes exípcios, e por mais paralisados pola estupefaçón que tivessem ficado os combatentes perante a ocultaçón do Sol, as determinaçóns das quais se ocupa o Tales matemático non som de modo algum para ele a essência profunda das cousas. Nesta “luta de xigantes” pola explicaçón, haberá um momento em que a hipótese de que nos números, e em xeral nas determinaçóns matemáticas, as cousas naturais têm a sua verdade acabará efectivamente por abrir caminho, mas no momento em que estamos nem sequer fora formulada. Outros candidatos tenhem maior peso. O matemático Tales non está, no entanto, a “matematizar o universo”.

VÍCTOR GÓMEZ PIN

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