DESCARTES (A TRAMA CONSPIRATIVA)

Esta rexeiçón da autoridade ficou amplamente comprobada no Renascimento, um grande movimento cultural paralelo à Reforma que, ao longo dos séculos XV e XVI, veio constatar a quebra da arquitectura do pensamento medieval. Se a Reforma foi a fenda no muro, o Renascimento foi a avalanche que inundou e afundou a catedral gótica. De certa forma, os autores renascentistas tomarom a teoria tomista da analoxia e levaram-na ao extremo: o mundo inteiro aparecia atravessado por vínculos de semelhança, ou “amor divino”, que faziam dele um xigantesco “Libro Sagrado” e que tinham permanecido até entón silenciados pola falsa autoridade. As sóbrias árbores categoriais explodiram nunha trepadeira na qual tudo se relacionava potencialmente com tudo, segundo as plásticas regras da conveniência, da emulaçón, da analoxia ou da simpatia. Proliferaram entón os compêndios de “mirabilia”: augúrios, profecias, monstros, milágres ou prodíxios que, enquanto excepçóns à norma, estilhaçávam a categorizaçón tomista dos seres e anunciavam unha Nova Aliança entre o divino e o humano. Xá non era necessário atender às poeirentas definiçóns dos filósofos: era como se Deus (agora, frequentemente, “a Natureza”) se manifestasse directamente em cada cousa aos olhos adequados. Para ler este novo e xigantesco “Libro do Mundo” forom resgatadas as velhas concepçóns esotéricas do saber, como o “Corpus Hermeticum”, a maxia, a astroloxia e a alquimia, sempre dispostas a descobrir novas e inesperadas relaçóns entre os factos mais díspares e a recombinar os elementos para dar lugar a misturas mais puras (como o ouro procurado polos alquimistas). Cada obxecto do mundo aparecia como um rosto enigmático, prestes a ser descifrado, e a única proba de erro era o isolamento, a incapacidade de relacionar algo com a trama conspirativa que o vinculava com o Todo. Assim, o ser humano obtinha directamente da natureza a potência universal da divindade: ele era, na verdade, como o “índice” dessa grande Enciclopédia, pois tinha-lhe sido outorgado acesso a todos os seus conteúdos. Como defendeu Michel Foucault em “As Palabras e as Cousas”, o pensamento renascentista, com o seu retorno a unha espécie de “paganismo iluminista”, tendia a eliminar a diferença entre ver e ler, entre a cousa e a palabra, de um modo similar à forma como o antigo dinamismo eliminava a diferença entre a matéria e as intençóns que se proxectavam sobre ela (sendo plausível, consequentemente, rezar para atrair a chuva ou interpretar um relâmpago como um augúrio favorábel à nossa causa, para dar dous exemplos simples). Nesta perspectiva, entende-se a devoçón dos “humanistas” do século XV pola filoloxia e pola erudiçón: ao descrever os factos do mundo, era o próprio mundo que se rexistava no libro. Por isso, o filólogo, o compilador de curiosidades, significados e palabras, era também unha espécie de “mago” capaz de encontrar (e, inclusive, refazer) o vínculo oculto entre todas as cousas com o seu “abracadabra”. Deste modo, à medida que esta concepçón transbordante da Natureza se foi propagando (enfrentando com frequência as purgas do Tribunal da Inquisiçón, que via nela um intolerábel crescimento do ateísmo e do paganismo), foi-se tornando mais palpábel que o esotérico e o “oculto” funcionavam mais como um símbolo de rexeiçón da autoridade e um anúncio do novo mundo (isto é, como unha “ficçón” provisória) do que como um sistema de pensamento apto para esse novo mundo (de facto, o esotérico, mal perdia a sua condiçón de “clandestinidade” e era submetido a um escrutínio “público”, era facilmente ridicularizado polos teólogos católicos). Apesar de tudo, o Renascimento é também a época em que se produz a configuraçón dos Estados Modernos ou o nascimento do mercado capitalista e das novas classes sociais: as cidades europeias estavam a mudar a grande velocidade, rumo a modelos individualistas que xá pouco tinham que ver com os antigos impérios e com as monarquias feudais. Entre as classes emerxentes e profissóns liberais, a simpatia polo esotérico era mais um modo de aglutinar o anticlericalismo do que de oferecer a alternativa consistente ao “velho”, que o novo mundo esixía.

ANTONIO DOPAZO GALLEGO

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