Arquivos diarios: 17/11/2022

A LEI “NATURAL” DA OFERTA E DA PROCURA

Se fizermos a experiência de perguntar nunha aula do ensino secundário (sem ler o comentário final de Marx) do que foi que o senhor Peel se tinha esquecido em Inglaterra, para que as cousas lhe correram tán mal (no dia a seguir ao desembarco, “o senhor Peel non contava nem com um servente que lhe trouxéra água do rio”), será normal, que algum aluno mais avantaxado responda despudoradamente, que se tinha esquecido de trazer a “guarda real”. Em parte, isso está certo. A primeira cousa que se compreende, de facto, é que a lei da oferta e da procura de trabalhadores, por algum misterioso motivo, non funcionava nas colónias sem a axuda da polícia e do exército. Em Inglaterra, é suficiente que alguém tenha capital, isto é, dinheiro, máquinas e “boas ideias”, para que a sua procura de trabalho se vexa imediatamente satisfeita por unha fila de operários dispostos a oferecer-se. Polo contrário, ao senhor Peel nem sequer lhe valeu a argúcia de exportar os seus operários xuntamente com o seu capital. Mal desembarcou, o contracto de trabalho que com eles assinara transformou-se em letra-morta, os operários desapareceram e, pouco tempo depois, as máquinas e os meios de produçón tinham deixado de ser capital, para se transformarem num monte de ferro-velho enferruxado. Os operários reaparecerom instalados em fazendas particulares, reconvertidos em colonos, dedicados – quem sabe – a exterminar aboríxens, a trabalhar com o suor da sua frente lotes de terra heroicamente defendidos dos intrusos… e se o filme for suficientemente longo, provábelmente aparecerám no final transformados em magnátes, depois de terem descoberto algum pozo de petróleo nas suas terras dilixentemente trabalhadas. O senhor Peel acreditava que metia no barco os seus operários e, sem se aperceber, tinha embarcado também a sua concorrência; tinha pago a passaxem aos seus mais inflamados competidores.

CARLOS FERNÁNDEZ LIRIA

O ILHA (12)

CONTOS DE UNHA XUVENTUDE ENLUTADA

A MINHA HISTÓRIA CNA (CAPÍTULO 4)

Nao sei como seria classificado hoje este professor, mas, calculo. Sei que nao daria aulas a nao ser que existisse alguma escola num buraco escondido da montanha mais montanha imaginada. Sei que todos sabem de quem falo sem o ter mencionado: Dete-Dete. Professor de inglês; açoriano e herói de Coimbra. É um professor indiscritível e fartamente adjectivável. Cruel chicoteador. Insensível à dor de uma criança. Em si era uma figura bizarra; cilíndrico. Tinha a poupa espigada que lhe emprestava um ar avesso. O professor mais detestável que conheci. Nao me recordo o motivo que gerou a nossa mútua aversao. No entanto, sei que uma semana depois de ter aulas com ele já sentia aversao. Penso que nunca me tocou. Mas, vi-o tocar e retocar a cara e o corpo de mais de um colega. E nao era um estalo, nao … Eram estalos; eram pauladas; era violência extrema. Era violência psicológica. Se a ancestral Universidade de Coimbra produzia este tipo de professores, Coimbra como Universidade, viveu uma época de interregno. Se lhe conto aos meus filhos ou a um jovem desta época como era este professor, perguntar-me-á: -Que bebeste ao almoço?.. Responder-lhe-ei: Nada; entao, o jovem rir-se-á de mim. Se por ventura é um jovem espanhol que sabe que estudei em escolas privadas; dir-me-á: “y tus padres te mandarom a un colégio de pago para que te dieran mamporros?..” Felizmente, hoxe, já nao existe este tipo de professor. Vamos melhorando.

JOSÉ LUÍS MONTERO