CONTOS DE UMA JUVENTUDE ENLUTADA

A MINHA HISTÓRIA CNA (CAPÍTULO TERCEIRO)
Vejo-me e observo que as minhas referências sobre os professores nao vao além do 4º ano. O quinto ano, nesse aspecto, é um ano que nao existe. No entanto, durante o 5º ano tive aulas com o Dr. Raul Lopes e também com o seu amigo que leccionava Português. Mas, nada ficou além das suas figuras. O Dr. Raul Lopes, ao ser o Director do Colégio, era um homem cheio de lendas que iam desde a sua etapa de Coimbra como estudante até aos últimos dias. A sua figura sempre era situada no epicentro da lenda. Devo dizer que além das reunioes onde estava a minha família a interessar-se pela minha evoluçao, pouco contacto tive com ele. A minha memória só me fala de mais duas reunioes onde, frente a frente, estava a figura do Director e a figura do aluno. No entanto, os primeiros anos foram férteis em figuras para unha boa comédia de rua. Talvez, ao som dos tempos, tivéssemos “hapennings” sem nos aperceber de nada. Talvez, se deva, também, ao choque brutal que tive com aquela realidade “sue generis”. Evidentemente, o Coronel Alvarenga (graduaçao que foi rebaixada por um colega, mas, ao reter na minha memória esse tratamento non será agora que o transformarei em soldado raso, sargento ou major.) ocupa muitas das cenas imortais daquele Colégio. Além do anedótico e do humor que provocava a sua aselhice pouco se pode dizer deste professor. Como síntese posso dizer que era um mal-educado e um violento; o tratamento de “ò Minha Besta” que lhe dedicava aos alunos fala por si. Logicamente, tomávamos a devida e merecida vingança. Tinhamos como nossa principal aliáda a aselhice que o caracterizava. E também tinhamos a neurose típica de quem vive entre muros para passar-nos quatro limites nessa vingança. Nos, os alunos, nao sei se numa aula do 3º ou 4º ano, também agimos violentamente. Um belo dia, pretendeu zurrar num colega que estava perto de mim. Como que atraídos por um íman, levantamo-nos os próximos. Rodeamos com os nossos braços o professor e ao grito de “nao lhe bata; nao lhe bata…” Tínhamos o pobre homem imobilizado. Nisto, chegou do fundo da sala um colega de Moçambique; natural de Maputo; de nome José Luís e de apelido, creio recordar, Rodrigues – era um rapaz espigado; seco de carnes; rápido de movimentos; inteligente. – Que se uniu ao abraço inibidor, mas, somou ao acto, umas lindas e mais que lindas pisadelas, fortes e bem fortes, no velho militar. O coronel Alvarenga berrava; nós, apercebendo-nos do facto, ainda mais gritávamos: “Nao lhe bata, nao lhe bata.” Este homem de idade avançada, esteve retido ao mesmo tempo que era agredido uns bons minutos… Um par de anos antes e depois, ser-me-ia impossível imaginar-me metido numa trifurca, violenta contra um professor. Este acto nao é do meu agrado, quando o recordo porque me apercebo que naquela altura e com aquel tempo de estância no CNA, xá estava num grau alto de animalizaçón. Perdera as maneiras. Era mais um que louvava o cajado como elemento dialéctico. Para esquecer; para superar…
JOSÉ LUÍS MONTERO MONTERO