DESCARTES (O PRIMEIRO MOTOR INMÓVEL)

A ciência que Descartes estudou na escola era, portanto, a dos gregos. Embora Aristóteles tivesse racionalizado e “mitigado” em grande medida o dinamismo inxénuo dos antigos (para quem o mundo do material era visto como um grande ser vivo, e os seus lugares vistos como relativos a funçóns e essências que determinavam o movimento das cousas e sobre as quais se podia influir através de oferendas e oraçóns), o mundo sublunar permanecia para ele dividido em quatro grandes rexións (fogo, ar, água e terra, esta última ocupando o centro do cosmos) que atraíam ou repeliam de forma natural o movimento dos corpos (na sua maioria compostos por misturas variáveis dos citados elementos). Non habia, portanto, lugar para a inércia: o mundo inteiro permanecia atravessado por causas impulsoras, a mais eminente das quais era Deus, cuxa inmobilidade todos os seres procuravam imitar sem êxito. Os astros eram compostos por um quinto elemento (éter ou quinta essência) e, estando apenas um gráu abaixo do primeiro motor inmóvel (isto é, Deus), deslocavam-se eternamente segundo o movimento mais perfeito concebíbel, o circular (pois é o que menos modificaçóns implica: o começo, o meio e o fim som nele virtualmente indistinguíveis a respeito do centro). Ora bem, o acesso a esta fabulosa ordenaçón dos seres non era público nem evidente: permanecia zelosamente guardado pola autoridade dos clérigos, que obstentavam nas suas bibliotecas e escolas o monopólio de leitura do “Libro do Mundo”, como se apenas eles e a sua língua especializada (um latim cheio de tecnicismos) tivessem a “chave” da proporcionalidade entre Deus e as cousas. Foi precisamente contra esse monopólio do saber que se rebelou a Reforma Protestante no século XV, defendida por teólogos modernos como Lutero, Tomás Moro, Erasmo de Roterdam ou Jacob Böhme. Segundo eles, a relaçón entre Deus e o home debia ser repensada de forma a facilitar um acesso “individual”; todo aquele que quisesse consultar as Escrituras debia poder fazê-lo sem passar pola intermediaçón de unha Igrexa corrupta. A relixión (“religatio”, aliança ou vínculo) seria assim “renovada”, e com isso inaugurar-se-ia unha nova era.

ANTONIO DOPAZO GALLEGO

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