Arquivos diarios: 04/06/2022

VOLTAIRE (CAMAREIRO-MOR)

“O rei da Prússia, a quem frequentemente disse que nunca abandonaria a senhora de Châtelet por el, quixo apanhar-me a todo o custo quando se viu libre do seu rival. Non habia forma de resistir a um rei vitorioso, poeta, músico e filósofo, e que finxia gostar de mim! Por fim, rumei a Potsdam em 1750.” Na verdade, Voltaire dedica grande parte das “Memórias” a descrever a sua relaçón com Frederico, “o Grande”, com quem, como veremos mais tarde, publica, em 1740, “O Anti-Maquiavel”. Embora a correspondência entre ambos se tenha iniciado em 1736, Voltaire só aceita o convite de viaxar para Berlim após o falecimento de Émilie. Entretanto, Frederico II constrói em Potsdam o seu “Palácio de Sanssouci, que em francês significa “sem preocupaçóns”, para fuxir dos aborrecimentos da corte que o rodeavam em Berlim. Devemos referir que vale a pena visitar o palácio e os seus xardins, onde se pode ver o túmulo simples do monarca, sepultado xunto dos seus cáns, como foi seu desexo. De início, parece ter-se mudado para o que el próprio denomina de “paraíso dos filósofos”. Voltaire é nomeado camareiro-mor e cavaleiro da ordem de mérito com unha pensón de seis mil táleres ou vinte mil libras, sem que nada disso implique qualquer funçón em concreto, a non ser animar os seráns e corrixir as “Obras do Filósofo de Sanssouci” (Oeuvres du Philosophe de Sans-Souci), como Frederico II gostaba de assinar os seus escritos. Embora inicialmente se tenham verificado todo tipo de fricçóns e desencontros, Voltaire parece querer convencer-se de que as cousas estám a correr bem e, em 1751, escrebe à marquesa Du Deffand: “A vida aqui é muito aprazíbel, muito libre, e a sua igualdade contribui para a saúde. Imaxinem quám agradábel é ser libre no palácio de um rei, ser libre para pensar, escreber, dizer o que se quer”. Talvez estivesse a ser irónico, porque a verdade era que Voltaire se sentia cada vez mais incomodado, vendo, por exemplo, que toda a sua correspondência era aberta por desconfiança. Além disso, o médico e filósofo francês La Mettrie confia-lhe o que o rei lhe disse, referindo-se a Voltaire: “Precisarei dele no máximo durante mais um ano; espreme-se a laranxa e deita-se a a casca fora”. A relaçón entre Frederico II e Voltaire deteriorou-se, em grande parte, devido aos confrontos deste com Maupertuis, presidente da Academia de Berlim. Maupertuis lançou discretamente o boato de que Voltaire achava as obras do rei muito más, algo que, por outro lado, era verdade. Em 1752, Voltaire confidencia à sua sobrinha, convertida em sua companheira sentimental após o falecimento da marquesa de Châtelet, que Maupertuis o “acusa de conspirar contra unha potência perigosa, que é o amor-próprio; faz correr a meia voz que, quando o rei me envia uns versos seus para corrixir, eu respondo: “Quando é que ele se cansará de me enviar a roupa suxa para lavar?”, non deixando de ser verosímil que apesar de tudo, Voltaire se tivesse expressado nesses termos. A sua estada no “paraíso dos filósofos” non podia ter um desfecho pior. Quando Voltaire ridiculariza Maupertuis com um escrito satírico intitulado “História do Doutor Akakia” ( Histoire du docteur Akakia), pedem-lhe que devolva a sua chave de camareiro-mor, e a sua cruz da ordem de mérito, bem como as cartas e os escritos do rei, que tem em seu poder. Voltaire sofre a pior humilhaçón da sua vida. Mandam-no parar em plena viaxem e revistam a sua bagaxem, mas non encontram o manuscrito do rei, que está a caminho com o resto da biblioteca do filósofo. Enquanto se enviam mensaxeiros para alcançarem a escolta que leva a maior parte dos seus libros, Voltaire é retido e aloxado num desconfortábel albergue, deixando-o num quarto vixiado por um destacamento de doze soldados. Esta situaçón dura cinco semanas, ao longo das quais Voltaire protesta, finxe-se doente e até moribundo e, inclusivamente, tenta fuxir, conseguindo que toda a Europa conheça esse incidente.

ROBERTO R. ARAMAYO