O ILHA (5)

CONTOS DE UMA PRIMEIRA JUVENTUDE ENLUTADA

A MINHA HISTÓRIA CNA

O MOSTRENGO

Eram as festas de Maio. O colégio parecia que respirava liberdade. Um colega finalista dizia e dizia no cenário “sketches” que demoliam o dia-a-dia do colégio. A sala aplaudia com entusiasmo. Era o dia do nosso grito; era o dia da nossa vingança perante tanta e tanta barbárie e bifes de cabedal com arroz encharcado. Nesse dia, o herói non era um forcado, nem o que mais soco dava, nem o mais cruel com a colher de pau: era um “actor”. Repassou desde a falta de água quente às ironias daquela vida sem ironia. Era feliz; sentia-se bem porque naquele cenário dissera-se o que pensava e sentia e porque a vida naqueles dias era outra. Fomos à tourada. Parece-me que comemos melhor. Os prefeitos non chateavam muito (além do Pinto que andava a marrar atrás dos fugitivos). E fomos ao baile. Andei de um lado para o outro na companhia do Hélder Pataias, do Casquinha e de mais colegas. Éramos felizes. Mas, maldita a hora, lembrei-me de unha moça que me fazia corar e separei-me do grupo para tentar sentir o seu perfume durante um pé de dança. Sabia onde estava. Fui, rodeando, até onde se encontrava a moça. Era bonita; coradinha; loira; sorriso tímido. Faltava-me pouco para a poder convidar para dançar quando fez apariçón um dos grandes “sádicos” do colégio: o Dete-Dete. O homem que facia culto à força bruta; o homem que era capaz de desfazer um ponteiro nas costas de um adolescente de primeira idade. Aproximou-se acompanhado pelo Catarino; amigos desde os tempos de Coimbra. -Olha o Montero !!! Exclamou bamboleando e rindo para o seu amigo. Mostrava sinais de ter bebido bastante mais do que suportava. Estava bêbado. -Anda cá! Apontando-me com o dedo enquanto via para o Catarino. O Dete-Dete, além de bêbado, parecia que também podia ser normal. Engano meu… Virando-se para o Catarino e falando com a brutalidade da sua condiçón e da bebida e mais que bebida, meio exclamou: -Pá: este Montero é muito mau…. Fiquei lívido. Aquele cilindro físico com cabeça rapada, mais unha vez, impusera a sua brutalidade. Senti que me estragara a noite e as festas. O Catarino, rapidamente, pegou nele e levou-o para unha esquina enquanto lhe sussurrava: -Nao digas isso. Também é meu aluno. Fiquei parado. Demorei-me. Vi a moça a olhar-me de esguelha. Non tinha espírito para sentir o seu perfume. Dei meia volta e regressei ao grupo de amigos. Nunca dancei com ela.

JOSÉ LUÍS MONTERO

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