Arquivos diarios: 27/12/2021

ENCRUZILHADA INTELECTUAL DO SÉCULO XVII

O tempo velho xá passou, estamos perante unha nova época (…). Porque o que dizem os velhos libros xá non é suficiente, pois onde a fé reinou durante mil anos agora reina a dúvida. O mundo inteiro diz: sim, isso está nos libros, mas deixem-nos agora olhar para nós mesmos. Aquela que fora a verdade mais festexada, hoxe é interrogada; o que nunca foi dúvida hoxe é posto em questón. (B. Brecht, “Galileu”)

Enquanto a Europa central se afundava na guerra, França disfrutava de unha década de tolerância favorecida por obra do defunto Henrique IV. As diferênças relixiosas passavam para segundo plano, especialmente em París, onde Descartes viveu a “época libertina”, caracterizada por um auxe sem precedentes de novas ideias alheias ao dogma eclesiástico. Esta onda de progressismo teve a sua orixem em 1619, quando um professor de filosofia e medicina chamado Vanini foi queimado, acusado de ser ateu e homossexual. Um grande sector da populaçón francesa se rebelou contra os métodos da censura eclesiástica e transformou Vanini no símbolo de unha abertura intelectual que ía além dos esquemas de “Reforma versus Contrarreforma”. No entanto, como costuma ser habitual quando um paradígma ideolóxico entra em crise, em todo este ambiente crescia um grande ecletismo. A vontade de mudar ía muito além da concepçón clara de unha alternativa. Para entender melhor o caos em que se tinha tornado a Europa culta na qual Descartes fez irromper as suas ideias, convém abrir um parêntese e introduzir em cena as duas grandes cosmovisóns da época.

ANTONIO DOPAZO GALLEGO