
Na primavera do ano seguinte, visitará a Biblioteca Vaticana, aberta todas as manháns. Montaigne observa o elevado número de libros “presos com pequenas correntes em numerosas filas das estântarias”; os restantes estabam pechados em caixas que se abriram “sem excepçón”. Encontrará manuscriptos de Séneca e Plutarco, cuxos códices provabelmente se facilitavam a Amyot para a traduçón do “corpus” de Plutarco, traduçón que Montaigne defenderá sempre, também num xantar com Muret e outros “douctos”, numa noite durante a sua estada romana. Recordará ter visto, entre outros, um libro chinês, escrito só de um lado em folhas “de unha certa matéria muito mais delicada e mais transparente do que o nosso papel”; um fragmento de papiro; o Breviário de Santo Gregório; um Tomás de Aquino com correçóns autógrafas (escrebia mal, observa Montaigne, com unha grafia minúscula, ainda pior do que a sua); unha Bíblia em quatro línguas (hebreu, caldeu, grego e latim, impressa por Cristoforo Plantin em Amberes); a Assertio septemsacramentorum (escrita, segundo Montaigne, por Henrique VIII contra Lutero)… Visita-a “sem nenhuma dificuldade” (“toda a xente pode visitá-la da mesma forma e procurar tudo o que desexar”: Menos afortunado foi o embaixador françês que tinha regressado à sua pátria sem ter podido visitá-la (“lamentando-se polo facto de quererem fazê-lo cortexar por isso o cardeal Charlet”) e, sobretudo, sem ver “aquele Séneca manuscripto” como tinha desexado. A partir daquele antecedente, o próprio Montagne tinha perdido qualquer esperança, quando “o caso” se lhe proporcionou. “Um xentil-home conduziu-me por todo o lado e convidou-me a usar tudo o que quisesse (…) qualquer cousa resulta igualmente fácil por certas vias e inacessíbel por outras: a ocasión e a oportunidade têm os seus priviléxios e frequentemente oferecem ao povo o que recusam ao rei. A curiosidade frequentemente interpón obstáculos a si mesma, como sucede à grandeza e à potência”. Por exemplo, parece que o superintendente da Biblioteca tinha recusado a Muret um manuscripto de Zósimo, porque o libro era “ímpio e malvado”. Montaigne chegou a 30 de Novembro de 1580 a Roma, onde permaneceu até Abril do ano seguinte: todo esse tempo para poder “estudar” a Cidade Eterna. Prescindirá do guía françês (como do seu secretário, despedido a 16 de Fevereiro) e, com a axuda de mapas e libros, em poucos dias tornar-se-á tamanho especialista da cidade que “teria podido guiar o seu guia”. A Roma papal induz-lhe algunhas amargas consideraçóns, enquanto o frío do Inverno o sentia tán parecido com o da Gasconha: fortes xeadas e ventos insuportabelmente frios, sem dizer que rosas e alcachofras xá floresciam ao abrigo da primavera, embora ele non notasse um calor extraordinário e andasse vestido e “tapado” como na sua casa. A Roma moderna surxia-lhe, agora, como o “sepulcro da Roma antiga”.
NICOLA PANICHI