GADAMER “PENSAR A SOMBRA DO SEU MESTRE”

Quem non conhecer Homero, non poderá entender nem sequer o termo “ápeiron” nos vestíxios do liibro de Anaximandro de Mileto; quem non fizer ideia das elexías de Sólon, perderá muitos matizes da personáxe platónica Sócrates; mas também quem non ler Heraclito non poderá realmente entender o significado do pitagorismo antigo. Inclusive suspeito que se entende melhor Aristóteles estudando quem o interpretou com a intermediaçón do Corán, do Primeiro Testamento ou de ambos os Testamentos, na Idade Média, do que se apenas se conhecer a evoluçón do pensamento filosófico grego até ao Liceu. Definitivamente, os discípulos de um filósofo, por mais díscolos que se proponham ser, non fazem senón pensar a sombra do seu mestre, isto é, tanto as conclusóns que ele non chegou a obter da sua própria doutrina, como os pressupostos a partir dos quais a concebeu e aqueles para os quais non conseguíu voltar totalmente a sua reflexón. Como disse mais acima, a rebeldia e a antítese, se non forem muito precavidas, ficam quase mortalmente dependentes daquilo contra o que se rebelam e querem negar. Na verdade, também eu, agora, som mais um efeito dentro da indefinidamente longa “história efeitual” de unha cada vez mais enmaranhada encruzilhada de tradiçóns que se sobreponhem mal ou bem. E o mesmo “crash of civilizations” de que non se pode deixar hoxe de falar (sobretudo para o exorcizar,) non é senón um axuste demasiado brusco de horizontes que confluem, que se fundem parcialmente e que, xustamente por isso, reaxem furiosos contra deixar-se unir. Um terceiro conceito capital é o do xogo, que abarca (em alemán e noutras línguas em xeral, e em Gadamer muito em particular) o nosso mesmo conceito, mas também o de performance, representaçón, actualizaçón. Gadamer depende, neste ponto, non apenas de Heidegger mas também de Roman Ingarden, aluno polaco de Husserl, que tinha publicado em 1931 (em alemán) um texto posteriormente bem conhecido: “A obra de arte literária. Unha investigaçón no território limítrofe entre ontoloxía, lóxica e teoría da literatura”. Resumindo, o problema que expón Ingarden e reexpón Gadamer é o de saber onde e como existe unha obra de arte (a vinculaçón com a literatura é prescindível; de facto, 30 anos depois, conseguíu Ingarden publicar unha “Ontoloxía da Obra de Arte” que tem como tema a música, a arquitectura e as artes plásticas). Será o “Quixote” um volume da biblioteca? Será o modelo universal de todos os volumes de todas as bibliotecas que dizem ter o seu Quixote? Está escrito em espanhol? Está pensado em espanhol? Porque também poderia acontecer que a sua existência primordial fosse a que habia na mente de Miguel de Cervantes. Non é, antes, verdade que o Quixote, como toda a obra de arte, apenas existe no xogo da leitura, no qual non está implicado unicamente o significado do texto, nem sequer também o seu ritmo linguístico, mas igualmente o leitor com o seu horizonte interpretativo?

MIGUEL GARCÍA-BARÓ

Deixar un comentario