RORTY (O PROBLEMA DA COMPREENSÓN)

Na realidade, o que mudou a linha de pensamento de Rorty foi a descoberta de Wittgenstein. As “Investigaçóns Filosóficas” tinham-no surpreendido, entre outras cousas, porque nelas a filosofia testemunhava os seus próprios autoenganos e ineficácia. A filosofia analítica decidia quais eram os problemas da filosofia, mas lendo Wittgenstein podia chegar-se à conclusón de que muitos desses problemas non se deviam reformular, mas sim esquecer. O problema non era como considerar os problemas de outra forma, mas se a ideia de que “considerar algo” é a única forma de fazer filosofia: “Se se tentar afirmar teses em filosofia” – afirmou Wittgenstein nas suas Investigaçóns Filosóficas – “nunca será possíbel debatê-las, pois cada um estaria de acordo com as suas”. Quando Rorty completa a sua retrospectiva da viraxem analítica non chega a adquirir um método; sai mais convencido de algo que para el xá resultaba claro quando via discutir outros tipos de filósofos: na verdade, non se ganham discussóns, quando muito ou passamos para a linguaxem do contrário ou assimilamos o contrário em nós próprios. Isto também é possíbel entender ao levantar um pouco a cabeça de cada debate e contemplar os estilos de debate de forma mais panorâmica. As próprias desavenças entre a filosofia analítica e o que acabou por se chamar filosofia continental também pareceram a Rorty fruto de diferênças muito profundas que tornavam os diálogos circulares. Para alguns, travava-se a luta das luzes da ciência contra a noite escura da especulaçón, ou a sensatez ou cordura do senso comum contra os desvarios linguísticos. Os positivistas que Rorty leu na sua xuventude prosseguiram na conquista da “seriedade e da neutralidade”. Desde a época do pós-guerra tinham-se tornado guardiáns da razón face a metafísicos europeus como Heidegger e a pragmáticos norte-americanos como Dewey. E a filosofia da linguaxem ordinária de finais dos anos cinquenta continuava empenhada em dar credibilidade à sua serenidade, perícia e solvência face ao estílo literário da filosofia europeia. Russell tinha defendido a pureza de um conhecimento obtido a partir de unha perspectiva impossíbel, quase divina. Em contrapartida, os filósofos da linguaxem ordinária reclamavam a sensatez da vida comum à face da terra. Mas todos eles se arrogavam o cuidado da razón. Porque os filósofos se entendem tán pouco uns aos outros? Porque dán tantas voltas para tornar a chegar a premissas xerais que permanecem ocultas? Durante os seus anos de formaçón Rorty sempre se fez essa pergunta a si próprio, mas em vez de se interrogar sobre quem detém a verdade ou que critério poderiam aceitar ambos os lados para decidirem, xá em 1961 começou a fazer outra pergunta que non tinha a ver apenas com o mundo da filosofia, mas com a vida em xeral: “como se consegue manter a comunicaçón?” Visto assim, os desacordos filosóficos sobre o que é argumentar poderiam ser usados para algo mais do que para se tornar um filósofo especializado. Mas que formas alternativas tinha Rorty para entender o problema da “compreensón”?

RAMÓN DEL CASTILLO

Deixar un comentario