Arquivos diarios: 15/04/2021

A BUSCA DA SUBSTÂNCIA MATRICIAL

No terceiro capítulo do segundo libro da “Metafísica”, que pode ser considerado como a primeira história da filosofia e talvez também a primeira história da ciência, Aristóteles diz-nos que os primeiros pensadores apenas tratabam das cousas a partir da perspectiva do seu princípio material (vexa-se caixa da páxina seguinte). Situemos a afirmaçón no seu contexto. Aristóteles acaba de nos dizer que, para constatar a existência dos seres, é preciso considerar-se quatro causas. Como no caso de unha cadeira normal: a madeira que a constitui sería a sua “causa material”, o carpinteiro que trabalha a madeira sería a “causa eficiente”, a “causa formal” é a ideia ou o conceito de cadeira, que preexiste na mente do carpinteiro e que se “materializa” mediante o trabalho deste, e, por último, a “causa final” é a funçón para a qual está destinada a cadeira e que, em princípio, a constitui. Em certa medida (sobretudo se nos ativermos às entidades artificiais), Aristóteles aponta aqui o problema, que mais acima esbocei, sobre a relaçón e a eventual prioridade entre o que na cadeira procede do intelecto (a ideia, conceito ou forma) e a matéria que percebemos através dos sentidos. Na sua opinión, os primeiros filósofos apenas tiveram em conta a “causa material”, isto é, partiram da percepçón imediata através dos sentidos e ocuparam-se em determinar a essência daquilo que era percebido. O leitor, talvez obrigado nos seus anos de escola secundária a memorizar dinastias de filósofos, como se memorizasse a dinastia afonsina ou a de Bragança, dirá que falta aqui polo menos um. E é, de facto, surpreendente que, entre Tales e Anaxímenes, Aristóteles non situe a Anaximandro, dada a relevância que lhe foi outorgada por historiadores, non apenas do pensamento filosófico, mas também (como vimos) do pensamento científico. Falta um ou outro nome de primeiríssima importância, como é Parménides, que, no entanto, será mencionado por Aristóteles nas páxinas seguintes. Mas vamos aos que están ou, melhor dizendo, a unha parte dos que están, polas razóns óbvias que derivam das características deste libro. Reparemos que, com a excepçón do siciliano Empédocles de Agrigento (nascido por volta de 495 a. C.), e Hipaso, também oriundo da Itália meridional (por volta de 500 a. C.), todos os mencionados som oriundos da costa da Anatólia.

VÍCTOR GÓMEZ PIN

BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO

Em primeiro lugar, para que o leitor estexa aquí agora, foi preciso que bilións de átomos errantes tenham conseguido xuntar-se, nunha dança intrincada e misteriosamente coordenada, de forma a criá-lo a sí. Trata-se de unha combinaçón tán única e especializada que nunca foi feita antes, e só vai existir desta vez. Durante muitos anos futuros (esperemos), estas partículas minúsculas iram dedicar-se sem qualquer queixume aos mil milhóns de hábeis e articulados esforços necessários para o manter intacto e deixá-lo disfrutar da experiência supremamente agradável, mas xeralmente subestimada, a que chamamos existência. A razón pola qual os átomos se dam a este trabalho non é muito clara. A nível atómico, ser o leitor non é propriamente compensador. Ou sexa, apesar da atençón que lhe dedicam, os átomos non se preocupam consigo – na verdade, nem sequer sabem que existe. Nem mesmo que “eles próprios” existem. Nada mais som do que partículas sem consciência, e nem sequer têm vida própria. (Non deixa de ser lixeiramente impressionante pensar que, se tentasse disecar-se a sí próprio com unha pinça, átomo a átomo, nada mais iría conseguir do que um monte de fina poeira atómica, da qual nem um grán algunha vez tivera vida, mas que, toda xunta, era você.) E, no entanto, durante todo o período da sua existência, a única preocupaçón dessas partículas será a de responder a um único impulso incontrolábel: fazer com que sexa quem é. O lado menos bom da questón é que os átomos som inconstantes, e que o seu período de dedicaçón a unha causa é passaxeiro. Muito passaxeiro mesmo. Até unha longa vida humana non dura mais do que unhas 650 mil horas. E quando este modesto marco é ultrapassado, ou por volta dessa altura, por desconhecidas razóns os seus átomos ván dispersar em silêncio, para se tornarem noutras cousas. E é o fim da história para sí.

BILL BRYSON