MONTAIGNE (O SABOR DOS BENS E DOS MALES)

No capítulo “Como o Sabor dos Bens e dos Males Depende em Boa Parte da Opinión que Tenhamos Deles” considera a doença como precursora da morte. A sua iminente viaxem à Europa e, sobretudo, a Itália, estará repleta de pedras expulsas, que aos poucos dissolvem e esvaziam a sua própria vida. Sobre a base da filosofia cirenaica, Montaigne reformula, nos “Ensaios”, o conhecimento do eu como consciência sensíbel redefinida com as únicas sensaçóns admitidas “dor e prazer”, unha espécie de tacto interno. No seu elóxio paradoxal da calculose, o bordalês non deixará de indicar a natureza mortal e, ao mesmo tempo, saudábel da doença: castigo onde gozou muito e purificaçón do corpo das escórias contaminantes, mas, sobretrudo, aprendizaxem para a morte. A nove de maio de 1579 obtém o “privilège de roy” para a publicaçón dos “Ensaios”, que se produz a um de Março de 1580. O seu editor foi o bordalês Simon Millanges, “imprimeur du Roy”. A vintidous de Xunho, parte para o cerco de La Fère, em Picardia; no caminho, passa primeiro por París para entregar um exemplar a Henrique III. Na base da sua filosofia da vida, além de Plutarco, sempre permaneceram Epicuro (Lucrécio) e Pitágoras (Ovídio). Com Lucrécio, Montaigne pón à proba o conhecimento do mundo e descobre a dissoluçón de unha coesón ilusória, enquanto a percepçón do infinitamente pequeno o conduz à persuasón da mobilidade do mundo e do indivíduo. Lucrécio ensinou-lhe que descrever a matéria significa descreber a realidade de corpúsculos invisíveis, a concreçón da substância permanente e imutábel revela que o vazio é tán concreto como os corpos sólidos. Para exorcizar o risco do peso esmagador da matéria (e de leis mecânicas que determinam qualquer evento), Lucrécio tinha advertido sobre a necessidade de permitir aos átomos uns desvios imprevisíveis da linha recta, para garantir a liberdade à matéria e aos seres humanos. A poesía do invisíbel, dos “simulachra”, das infinitas potencialidades imprevisibeis, a poesía do nada nasce de um poeta que non alberga dúvidas sobre a fisicalidade do mundo. A pulverizaçón da realidade também se estende aos aspectos visíbeis os gráns de pó que rodopiam num raio de sol, dentro de um quarto escuro; as teias de aranha que nos rodeiam sem darmos por elas enquanto caminhamos. Mas Montaigne também sente fascínio polas “Metamorfoses” de Ovídio, para cuxa leitura, como se disse, foi treinado desde pequeno.

Nicola Panichi

Deixar un comentario