
Afirmou-se da “História da Loucura” que o que a distingue é acima de tudo, unha opçón de linguaxem, que é explícita desde o seu próprio título “da loucura” e non da “psiquiatria”. A afirmaçón (foi M. Serres quem o dixo) non só é elegante, também é muito certeira. Poderia dizer-se que Foucault aplica ao seu domínio de estudo o mesmo coeficiente de estranheza com o qual o etnólogo analisa as características das culturas primitivas, colocando entre parênteses até onde for possíbel qualquer pressuposto pessoal e eurocêntrico, questionando as categorias que os primitivos colocam em práctica sem as reduzir às próprias. Neste caso, Foucault aplicará esta distância non ao estudo das culturas “sem escrita”, mas às sociedades históricas. E levá-lo-á a cabo, obedecendo a unha maior precauçón: “sobretudo, nenhum conceito de psicopatoloxia deverá desempenhar um papel organizador no nosso xogo retrospectivo”. Em vez de entrar com o olhar do psiquiatra nas diversas figuras que a loucura adoptou ao longo da história. Foucault analisa o desenho que cada época fez dela, questionando o tipo de olhares que a fizeram ser o que foi para eles. Assim, o fanatismo relixioso, a questón metafísica, a utopia administractiva, o protesto lírico, a assistência à dor do próximo, a dança e a festa, o teatro, a intervençón médica, as suas paisaxens correspondentes, os seus palcos, as suas palabras. Todos eles aparecem mostrando a forma como se constituiem em cada época os olhares autorizados que dam forma a esse obxecto que se reconhece como loucura. Assim, Foucault descreve a história da loucura a partir de um olhar que coloca entre parênteses a obrigaçón de contar essa história a partir do seu presente psiquiátrico, do conhecimento psicopatolóxico que hoxe se tem dela. Evidentemente, quando por fim o grémio de psicólogos e psiquiatras se deu por atinxido, pregou aos quatro ventos que tinha sido gravemente ofendido. E acontece que as palabras com as quais o texto fecha pareciam antecipar a caducidade do modelo médico de compreensón da loucura, dada a importância crescente que estaba a adoptar, como contramodelo, unha certa experiência literária ou artística. “O mundo que acreditaba poder medir (a loucura) e xustificar através da psicoloxia, debe xustificar-se perante ela, unha vez que nos seus esforços e nos seus debates se mede com o excesso de obras como as de Nietzsche, Van Gogh ou Artaud. E nada nele lhe assegura – e ainda menos aquilo que possa conhecer da loucura – que estas obras de loucura o xustifiquem”. Pouco tempo depois (em A Loucura, a Ausência de Obra, 1964) será explicitamente ratificado nessa constataçón que está a começar a tornar-se-lhe evidente: que a loucura excede a (tardia) experiência médica que dela se possa ter tido: “Loucura e doença mental desfazem a sua pertença à mesma unidade antropolóxica”.
MIGUEL MOREY