Arquivos diarios: 14/06/2020

FLORBELA ESPANCA (SONETOS)

AO VENTO

O vento passa a rir, torna a passar,

Em gargalhadas ásperas de demente;

E esta minh’alma trágica e doente

Nao sabe se há-de rir, se há-de chorar!

.

Vento de voz tristonha, voz plangente,

Vento que ris de mim, sempre a troçar,

Vento que ris do mundo e do amar,

A tua voz tortura toda a gente!…

.

Vale-te mais chorar, meu pobre amigo!

Desabafa essa dor a sós comigo,

E nao rias assim!… Ó vento, chora!

.

Que eu bem conheço, amigo, esse fadário

Do nosso peito ser como um Calvário,

E a gente andar a rir pla vida fora!…

FLORBELA ESPANCA