Arquivos diarios: 29/05/2020

VIVER SEM SOBRESALTOS

O Villán, em câmbio, vivia sem sobresaltos aparentes e coincidía com o regulamento mais ou menos comúm e xeral das xentes; mas, em questóns prácticas de uso doméstico, era um “manazas”. Um día, na cozinha do hotel, provocou unha zaragata tán por encima dos desastres habituais, que o encargado, um muniquês irrascíbel, quería metê-lo num campo de concentraçón. Mas non habia campos, polo menos nas cercanías de Canet. E, ademais, Villán non era xudeo, cousa que non lhe houbera importado, ainda que só fora por foder o muniquês. Quando Villán estaba de bom humor, explicaba-lhe a Heiner Rahn, o encargado, que non estaba muito seguro da pureza da sua sangre, pois Villán e Zapatero eram apelhidos que bem poderiam ter unha orixem xudaizante. E ademais o seu pai era ferreiro, carteiro e taberneiro, ofícios mais próprios de converso, que de cristán velho. O Villán nada tinha contra a “raza perseguida”, mas sacába-o de quício a questón da Palestina. Aí, punha-se a desbaratar, sem atender a argumentos nem razóns. Eu estaba convencido de que o Villán nunca chegaría a nada, e como hoteleiro, menos. Non era cousa de pôr-se a discutir de política, mentras te estás “traxinando” um polvo. Heiner Rahn, tinha unha filha que abominaba de sarténs e caçarolas, que detestaba o seu pai e que tinha unha beleza inclemente, aria pura, pedindo a gritos unha liberaçón da dictadura paterna. Com esses prexuíços raciais e políticos, o Villán non tinha nada que fazer. Ningúm de nós, tivo nada que fazer com a filha de Heiner Rahn. Aínda que carecéramos dos prexuíços que tinha o Villán.

JAVIER VILLÁN E DAVID OURO

JACQUES DERRIDA (GLAS)

Em 1974, publica Glas, que marcará unha inflexón importante na sua traxectória. Em primeiro lugar, porque de certo modo se trata do seu primeiro libro, no sentido de ser concebido como libro e non como os anteriores, compostos por compilaçóns de textos; e, em segundo lugar, porque suporá unha radicalizaçón dos seus modos heterodoxos de leitura e escrita, unha viraxem inesperada que, logo à partida, afecta a própria estructura do texto. Neste som apresentadas, em paralelo e a duas columnas (ambas interrompidas por partes em branco e desfasamentos, ambas com enxertos), dois textos independentes: unha leitura dos “Princípios da Filosofia do Direito” de Hegel e unha abordaxem do tema da flor na obra de Jean Genet, começando polo seu próprio nome (genêt = xiesta). À flor como obxecto poético por excelência, tal como a entende Sartre, Derrida contrapón as apariçóns da flor na obra de Genet e os usos absoluctamente heteroxéneos (tanto no que se refere aos factos como aos valores) que nela recebe a flor. A flor, assim, carece de qualquer efeito transcendental, non simboliza nada, a non ser a ruptura do código de significaçón e sentido. O modo de entender o “malditismo” de Genet xá non é o que Sartre defende em Saint Genet Comèdien et Martyr, agora ficou completamente alterado. Na prière d’insérer (nota de divulgaçón) deste libro, Derrida dá explicaçóns sobre os textos, referindo que o dedicado a Hegel é “dialéctico”, um texto dialogado e com o qual dialogar, enquanto o dedicado a Genet é um texto para ouvir, um texto “galáctico” (literalmente “leitoso”, gala significa leite em grego), no qual se podem apreciar as metamorfoses desta sílaba quase impronunciável, “GL”, em todo um florescer de termos. E dá também a entender que o que constitui propriamente o libro é o que se passa entre as duas columnas, o xogo de interferências sem fim que o leitor pode levar a cabo na sua leitura, prolongando (ou non) as que o próprio Derrida xá introduziu em cada unha das columnas. Duas columnas que non só rompem a linearidade do texto, como também forman as duas partes do “double bind”, a antinomia inconciliável, indecidível. Qual dos dous textos é escripto à marxem do outro? Glas designa em françês o tocar fúnebre do sino e, deste modo, a morte é unha constante ao longo de todo o texto. A leitura mais fácil assinalar-nos-ia a columna de Genet num toque de finados sobre a primeira columna, em que se dissolve o saber absolucto. Mas os sinos também dobram pola significaçón que parece rebentar neste texto, cuxo sentido, é-nos dicto, é o que passa pola columna em branco, nesse espaço da indecidibilidade. E também polo seu próprio autor, polo seu próprio nome que fica rasurado, apagado polo que a escripta pón em funcionamento. E é preciso acrescentar, relativamente ao problema do “nome próprio” (e também da assignatura), que vai reaparecer com notável insistência a noçón de “resto” (que assinala, por exemplo, o que resta, o que resiste ao apagar do nome próprio).

MIGUEL MOREY