Arquivos diarios: 23/05/2020

O DOUTOR MARX

Se a literatura dá lugar à filosofia, o mesmo acontece com o direito. Acabará os estudos para satisfazer o pai, mas os dados xá estavam lanzados. No início de 1839, começa a preparar a sua dissertaçón de doutoramento sobre as diferenças entre a filosofia da natureza de Demócrito e Epicuro. A sua aposta em Epicuro foi entendida como unha tomada de posiçón militante do ateísmo frente ao cristianíssimo e feudal Estado prussiano; deste modo, iniciaria, vingando imaxinariamente a sua família contra o poder que a tinha esmagado, a sua longa luta pola emancipaçón. Talvez sim, mas a sua dissertaçón expressa unha luta mais xeral do que a vingança familiar. Marx apresenta-se nela qual Prometeu que rompe com os deuses e se pón do lado dos homes; mais precisamente, compromete-se como o Prometeu que quer levar a luz do saber ao povo, que quer livrá-lo das suas submissóns, libertá-lo de opressóns, fazer com que neles -também neles- se abra o espírito da época. Prometeu é a luta dos “xovens hegelianos” liberais pola realizaçón do espírito no mundo; luta contra Hermes, o mensaxeiro dos deuses, o “lacaio do Olimpo”, conservador e reacionário. Mas o “Prometeu” hegeliano, que encarna o “espírito universal”, e que avança nos ombros de povos e indivíduos selecionados, privilexiados, metamorfoseou-se num “Prometeu” marxiano que apoia o seu progresso noutros corpos, o dos marxinalizados da história, e, assim, advirte-nos que o espírito emancipador tem de começar a sua existência no início da história. Marx apresenta a sua dissertaçón de doutoramento a 15 de Abril de 1841, na Universidade de Jena, pois considerava que a de Berlim estaba nas máns dos ideólogos do rexime. Em Berlim tinha cumprido a seu deber: acabar os estudos de direito; mas a história empurrá-lo-ia para a filosofia. E agora, à sua maneira, atribuir-lhe-ia outros obxectivos, fechando e abrindo portas. Valeu-se do poder para lhe fechar as da Universidade de Berlim e as de Bona, apesar do apoio dos seus amigos do clube, incluindo Bruno Bauer. O doutor Karl Marx tivo de regressar a Trier para reiniciar a sua vida, para retomar a incontornábel viaxem da sobrevivênça. O seu título de doutor era acompanhado pelo reconhecimento intelectual de quantos o tinham conhecido. Unhas palabras de um amigo, eloxiosas e sinceras, tornar-se-iam premonitórias. Som de Moses Hess, um “xovem hegeliano” com quem manteria o contacto, que, no vrán de 1841, conta a um correspondente: Podes preparar-te para conhecer o maior, talvez o único verdadeiro filósofo vivo, que em breve, onde quer que apareça (impresso ou no estrado da cátedra), atrairá para si os olhares da Alemanha. O doutor Marx -é o apelhido do meu ídolo- é ainda muito xovem (quando muito terá uns vinte e quatro anos), mas dará o golpe definitivo na relixión e na política da Idade Média. Nele reúnem-se o talento mais agudo com a mais profunda seriedade filosófica. Pensa em Rousseau, Voltaire, Holbach, Lessing, Heine e Hegel unidos nunha só pessoa (digo unidos, non confundidos) e terás o doutor Marx.

JOSÉ MANUEL BERMUDO