Arquivos diarios: 31/03/2020

QUE NADA SE SABE (34)

A LINGUÁXE DE ADÁN

O mesmo indagam, com mais meticulosidade que verdade o utilitarismo, acerca de todas as demais palabras, e assím as convertem a todas em derivadas ou compostas, considerando que non há ningunha simples nem primitiva. ¿Quêm non vê o vano e estúpido que é tudo isto? Se “lapis” foi imposta, como afirmas, conforme a natureza da cousa. ¿acaso a natureza da pedra consiste em ferir o pé? Creio que non, mas concedá-mo-lo. ¿Como representa la a natureza do dano que significa? ¿Como significa “pis” a natureza do pé? Vamos ao infinito. Tampouco “humus” procede de “humiditas”, xá que, ó contrário, a terra é segundo tú o mais seco de todos os elementos. Mas concedamos que sexa muito húmida, e que de aí venha o “humus”. ¿De que se vai derivar “humiditas”? Se indicas outra palabra da qual venha esta, voltarei a perguntar o mesmo respeito dela. De novo ao infinito. Se ó fím te detêns em algunha parte, essa precissamente non terá possibilidade de mostrar a natureza da cousa que significa. Todas as palabras intermédias anteriores a ela certamente parecíam representar a natureza da cousa, graças a que se derivabam de outras que significabam algo, até chegar à última, que, segundo tú, non se deriva de ningunha outra, pois de contrário eu voltaría a perguntar a respeito dela. Agora bem: ¿quantas som as palabras simples? Quase todas. Ademais, se “panis” (pan) foi imposta conforme a natureza da cousa, ¿a quê vem dicer em grego “artós”, em bretón “bará” ou em vasquence “ouguia”, sendo assim que a sua diferença na fonêtica, nas letras e nos acentos é tán grande que dirás, que nada tenhem em comúm? Se dixéras que só unha fala foi a imposta conforme à natureza das cousas, ¿por quê non igualmente as demais? E, em tal caso, ¿qual é ela? Se dís que é a primeira, a de Adán, afirmas sem dúvida a verdade, pois el podía telo feito, xá que conhecia as naturezas das cousas, como testemunha o autor do Pentateuco, e nesse caso sería muito de desexar que a sua filosofia, ou a que nós temos, tivera sido também escrita nesse idioma. Se tú tivesses dito entón que a filosofia non pode ser ensinada nem explicada mais que naquel ” idioma de Adán”, no o negaria eu, mas tú afirmas que só em grego ou em latím. Falas que non forom impostas conforme à natureza das cousas. ¿E que pensar da continuada dexeneraçón dos vocábulos, e de que existan todavía libros galos e hispanos nos quais encontrarás muitas palabras cuxo significado se ignora por completo? ¿E non há entre os latinos muitíssimas palabras que xá non se usam, mentras que cada dia se acunham de novo outras? Na fala, sucede o mesmo que em tantas outras cousas: com o uso continuado vam mudando, e o câmbio chega a ser tán grande que esse lenguaxe dexenera de todo e se converte em outro diferente. Por isso xá desapareceu por completo a antiga fala latina, transformada agora no italiano vulgar; com o grego aconteceu outro tanto. E se alguns libros conservam vivas ambas falas, até tal maneira distam daquel antigo explendor que, se Demóstenes ou Cicerón estiveram presentes quando falamos a sua língua, talvez non poderiam deixar de rir-se de nós.

FRANCISCO SÁNCHEZ

O FADO (FLOR BELA DE ALMA DA CONCEIÇAO ESPANCA)

Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa a 8 de Dezembro de 1894. Filha de pai incógnito, foi baptizada com o nome Flor Bela de Alma da Conceiçao. Começou a escreber com apenas 8 anos e concluiu o Liceu em Évora após o seu primeiro casamento. Matricula-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa em 1917. É em Lisboa que edita a sua primeira obra poética “O Livro das Mágoas” em 1919. Florbela Espanca volta a casar no Porto em 1921 e em 1923 edita o seu segundo libro “O Livro de Sóror Saudade” em Matosinhos. Em 1927 o seu irmán Apeles Espanca viria a falecer num tráxico accidente de aviaçón no Rio Texo e por quem Florbela tinha unha profunda ligaçón afectiva. Casa pola terceira e última vez em 1925 em Matosinhos. A morte do seu irmán, as desilusóns amorosas e o desgosto dos filhos que non tivo, foram marcantes na sua vida e obra. A poetisa viria a falecer em Matosinhos a 8 de Dexembro de 1930 na flor da maioridade, precisamente no día em que completou 36 anos. Apesar da causa da morte ser apontada como edema pulmonar, vários estudos apontam para o suicídio bem como os seus textos. O mundo sem amor e partilha pode tornar-se um deserto… Curiosamente foi somente após o seu desaparecimento que a poetisa despertou o interesse de todos, incluindo dos seus críticos. Foi postumamente, a partir do seu diário, poemas guardados, cartas e contos por publicar que o seu acervo literário começou a ser publicado por outros escritores. A literatura de Florbela Espanca é actualmente admirada em todo o mundo, sendo considerada a expressón maior da poesía no feminino e unha das grandes figuras da literatura portuguesa. A obra de Florbela Espanca é tán fascinante como inquieta, unha exaltaçón ao amor que retracta a profundidade e a fraxilidade do ser feminino, unha escrita reveladora do mais íntimo de si.

O FADO EM FLORBELA ESPANCA

MEU AMOR

De ti somente um nome sei, Amor,

É pouco, é muito pouco e é bastante

Para que esta paixao doida e constante

Dia após dia cresça com vigor!

.

Como de um sonho vago e sem fervor

Nasce assim unha paixao tao inquietante!

Meu doido coraçao triste e amante

Como tu buscas o ideal na dor!

.

Isto era só quimera, fantasia,

Mágoa de sonho que se esvai num dia,

Perfume leve dum rosal do céu…

.

Paixao ardente, louca isto é agora,

Vulcao que vai crescendo hora por hora…

Ó meu amor, que imenso amor o meu!

(FLORBELA ESPANCA/ SAMUEL LOPES (GUITARRA CLÁSSICA)/ ANDRÉ M. SANTOS (GUITARRA PORTUGUESA)

FADISTA: CRISTINA DE SOUSA