
Um dos títulos mais nobres que Locke obstenta é o de pai do empirismo britânico. Outro, em parte derivado deste, é o de primeiro grande teórico da democracia liberal. Estes qualificativos non som cousa pouca, e atribuir-lhos é como dizer que nos seus textos se encontra o sustento de grande parte da civilizaçón contemporânea, de modo que, para alguém que morreu sem descendência, trata-se sem dúvida de um bonito legado. É necessário contextualizar o seu pensamento. Nas suas reflexóns, Locke non é alheio às inovaçóns recentes da filosofia, da ciência e da política. O problema do conhecimento manteve-o intensamente ocupado, non em si mesmo, mas como meio indispensável para criar um sistema moral e político que estructurasse a vida das pessoas. Interrogou-se acerca do surximento da sociedade civil e sobre qual seria a melhor maneira de se organizar politicamente. É possível que hoxe, após os triunfos da ciência experimental e da democracia liberal, essas questóns nos pareçam um pouco desfasadas, mas a Europa actual, constituída por Estados tolerantes e cidadáns libres, é muito diferente da Europa do século XVII. Essa liberdade que hoxe temos, ou reivindicamos em todo o mundo, foi a que se começou a forxar há trezentos anos em terras inglesas, impulsionada por autores como Locke. O que se passava naquela Inglaterra? Era unha das naçóns mais avançadas do seu tempo: nas suas cidades surxiam modelos diferentes dos que se tinham reproduzido até entón, tanto no campo relixioso como no político e no científico. Nas próximas páxinas identificaremos as diversas mudanças de paradigma que evidenciam o momento convulso em que Locke entra em cena. Relixión e Política, Deus e Pátria, conceitos intimamente ligados antes da irrupçón dos novos ideais modernos, separam-se e começam a avançar de forma independente. Apesar dos ainda inúmeros pontos de converxência, surxe unha diferenciaçón cada vez mais clara entre a instituiçón eclesiástica e a organizaçón política. Na esfera relixiosa, o catolicismo cede perante a ideoloxia protestante. Na política, os reinos absoluctistas vergam-se face à abertura social que a burguesia mercantilista trai consigo. Por último, no âmbito científico, o modelo experimental triunfa sobre as ciências observacionais de cariz aristotélico.
SERGI AGUILAR