Arquivos diarios: 28/01/2020

KUHN (A REVOLTA HISTORICISTA)

No entanto, paulatinamente, os filósofos da ciência foram-se interessando cada vez mais pola visón do desenvolvimento das teorias científicas expostas em “A Estructura das Revoluçóns Científicas”. Deixaram de considerar Kuhn um mero historiador e compreenderam que a interpretaçón da ciência proposta por ele implicaba um formidável desafio a unha série de ideias tradicionais da filosofía da ciência, ideias acerca do progresso científico, dos critérios de identidade das teorias, de como se ponhem à proba, da relevância da história ( e da psicoloxia ) para a filosofia da ciência, etc. Foi o início, em meados da década de 1960, do que, em retrospectiva, se costuma denominar a “revolta historicista” em filosofia da ciência: unha revolta desencadeada, non só mas em grande medida, pola concepçón kuhniana das revoluçóns científicas. A comunidade dos filósofos da ciência dividiu-se em dous grupos irreconciliáveis (apesar das tentativas de mediaçón do próprio Kuhn): por um lado, os que execravam as ideias kuhnianas e, por outro, os que se sentiam entusiasmados com elas. Houve um evento particular que contribuiu para divulgar o interesse (quer fosse positivo quer negativo) polas ideias de Kuhn entre os filósofos da ciência, o Colóquio Internacional sobre Filosofía da Ciência que teve lugar em 1965, no Bedford College da Universidade de Londres. Kuhn foi convidado para esse colóquio no sentido de expor a sua inovadora concepçón do desenvolvimento da ciência – e para receber fortes críticas dos popperianos, em particular do próprio Popper. A este evento e às suas consequências iremos referir-nos na última parte deste libro. Durante a sua permanência em Berkeley, Kuhn conheceu Paul Feyerabend. Ambos verificaram, espantados, que tinham criado, simultânea e independentemente, o conceito de “incomensurabilidade” para descreber a relaçón entre duas teorias rivais (analisaremos esta noçón mais à frente). Por esta razón, a tese de que há unha incomensurabilidade entre teorias rivais também costuma ser conhecida como “tese Kuhn-Feyerabend”. Todavia, embora os filósofos partilhem esta ideia e o interesse pola história da ciência, as posiçóns filosóficas de Kuhn e Feyerabend son bastante diferentes. Em meados dos anos de 1960, e apesar da sua fama crescente, Kuhn começou a ficar descontente com os colegas da Universidade de Berkeley, em especial com os filósofos, que mantinham unha actitude muito distanciada em relaçón a ele. Decidiu, por isso, aceitar a proposta da Universidade de Princeton para aí se estabelecer como catedráctico. Em Princeton, onde esteve entre 1964 e 1979, Kuhn sentiu-se muito mais bem acolhido e estimulado que em Berkeley. No entanto, continuava a sentir-se incompreendido no meio académico em xeral, e sobretudo no meio filosófico, tanto por parte dos seus simpatizantes como dos seus detractores. Os primeiros costumabam (e costumam) vir de unha tradiçón “socioloxista e relactivista”, para a qual os conceitos e as teorias científicas som, como tudo o resto, producto de certos constranximentos sociais e da sua evoluçón histórica, e non podem ter pretensóns a proporcionar um conhecimento obxectivo da realidade. Os detractores atiravam-lhe à cara exactamente o mesmo: que era um relactivista socioloxista, e além disso um “irracionalista”, e que concebia o desenvolvimento da ciência como um processo non guiado pola razón, mas polos preconceitos e polas paixóns.

C. ULISES MOULINES