Arquivos diarios: 17/01/2020

OS “MARXISTAS”

Alguns escritores russos tinham desautorizado esta outra vía com as palabras do próprio Marx. Citava-se, de facto, o penúltimo capítulo do Libro I, no qual Marx tinha descripto esse processo de proletarizaçón do campesinato em Inglaterra. Aí tinha afirmado que “só em Inglaterra a expropriaçón dos agricultores se efectuou de maneira radical”, mas que “todos os outros países da Europa occidental percorrem o mesmo movimento” (MEGA II, 7:634), No referido capítulo, descrebe-se a maneira como esse processo de expropriaçón xeneralizada das condiçóns de existência da populaçón decorreu em Inglaterra, assentando assim as bases para o seu desenvolvimento industrial. Ora, as palabras citadas, obviamente, non dizem outra cousa senón: 1) esse processo em nenhum sítio foi levado a cabo tán plenamente como em Inglaterra; e 2) todos os países europeus están a seguir o mesmo caminho. No entanto, os seus defensores russos convertiam estas palabras num dogma, segundo o qual a história tem as suas leis, e a lei que xá tinha transformado a Inglaterra transformaría inevitavelmente o resto das naçóns. Essa era a via pela qual a Europa se aproximaria cada vez mais do Comunismo. E é aqui que, no entanto, o velho Marx decide intervir no debate. É, poderíamos dizer, a voz que desce dos céus, e fá-lo curiosamente para desautorizar com vehemência esta utilizaçón do seu próprio texto que os autodenominados “marxistas” estabam a fazer. Afirma que a única aplicaçón que se pode fazer das suas palabras é, de facto, muito mais modesta: Se a Rússia tiver de se transformar nunha naçón capitalista a exemplo dos países da Europa occidental, non o conseguirá sem transformar primeiro em proletariado unha boa parte dos seus camponeses; e consequentemente, unha vez chegada ao corazón do rexime capitalista, vivenciará as suas impiedosas leis, como as vivenciaram outros povos profanos. E “mais nada”. (Marx e Engels, “Correspondência”). E mais nada! No entanto, diz-nos Marx, non o é para os seus “bem-intencionados intérpretes”. Referindo-se a um deles que o tinha citado, comenta: “Ele sente-se obrigado a metamorfosear o meu esboço histórico da xénese do capitalismo no Occidente europeu nunha teoría histórico-filosófica da marcha xeral que o destino impóm a todos os povos, quaisquer que sexam as circunstâncias históricas em que se encontre, a fim de poder chegar à forma da economia que lhe assegure, xuntamente com a maior expansón das potências productivas do trabalho social, o desenvolvimento mais completo do homem. Mas peço ao meu intérprete que me dispense (Honra-me e envergonha-me, simultaneamente, demasiado)”. (ibid.)

CARLOS FERNÁNDEZ LIRIA