
De surpresa em surpresa. É así que evolui, segundo Bergson, o espírito de qualquer pessoa que se tenha desprendido das palabras e das opinións comuns para acudir directamente às cousas e aprofundar os problemas que elas apresentam. No seu caso, Zenón de Eleia serviu como catalizador, ou talvez como mera constataçón, de todo um processo de evoluçón intelectual. Os antigos paradoxos, que non pretendiam provar a inexistência do movimento (pois Zenón non estava cego nem era um idiota), mas a dificuldade de um pensamento do movimento, fizeram com que o xovem filósofo reequacionasse tudo o que tinha considerado válido até entón (“non habia nem devir nem evoluçón”, sentenciará em 1907). Ofereceram-lhe, com isso, a ocasión para um novo começo no qual a especificidade da noçón de tempo adquiria todo o protagonismo. De repente, conseguiu ver com clareza que este sábio antigo, de quem mal habia rastro além de alusóns fragmentárias mas insistentes, tinha desempenhado o papel de um xénio trocista para toda a história da filosofia. A metafísica nasceu, de facto, dos argumentos de Zenón de Eleia relactivos à mudança e ao movimento. Foi Zenón quem, atraindo a atençón para o absurdo daquilo a que chamava movimento e mudança, levou os filósofos – Platón em primeiro lugar – a procurar a realidade coherente e verdadeira no que non muda. Toda esta filosofia, que começa em Platón para culminar em Plotino, é o desenvolvimento de um princípio que formularíamos deste modo: “Há mais no inmutábel do que no móvel e passa-se do estável ao instável por unha simples diminuiçón”. Ora, o contrário é a verdade. Como que atraídos pola magnitude do desafio, todos os grandes pensadores morderam o isco e caíram na armadilha de explicar o movimento a partir do inmóvel e o tempo a partir do espaço, que é onde a nossa intelixência se sente mais confortável. Non se apercebiam de que a tentativa nascia morta, e que Zenón os tinha enganado, conduzindo-os a um labirinto sem saída: a intelixência caracteriza-se por unha incapacidade para pensar o móvel, que reduz continuamente a imaxens espaciais. Daí todo o repertório de mal-entendidos e problemas sem soluçón que a filosofia enxendra, derivados do “mais velho problema”, o da mudança, também conhecido como o da passaxem do Uno ao múltiplo, do nada ao ser, o do infinito, a xénese do mundo, etc…
ANTONIO DOPAZO GALLEGO