Arquivos diarios: 03/01/2020

ESPINOSA (A ÉTICA À MANEIRA DOS XEÓMETRAS)

Paradoxo do fundo e da forma: Espinosa é actual polo que dí, non pola forma como o diz. “Espinosa é único entre os filósofos do século XVII. Ainda hoxe é possíbel perguntar-se seriamente se a sua filosofia, reformulada nos termos do século XX, é substancialmente correcta, quando parece impossíbel formular este pensamento em relaçón aos principais dos seus quase contemporâneos, Descartes e Leibniz. Contudo, a técnica filosófica moderna debe muito mais a estes dous, e practicamente nada a Espinosa”. Paradoxo da falta de estilo literário: A sua escrita, sóbria e austera, desprovista de qualquer ornamento literário (“liberto da metáfora e do mito”, segundo Borges), concebida para a mais obxectiva e impessoal transmissón de conteúdos abstractos, é para muitos leitores atraente como unha arquitectura transparente, tal como existe quem admire a beleza fria da matemática e a compare à da poesia e da música. Paradoxo da clareza com múltiplos sentidos: A Ética: demonstrada à maneira dos geómetras é o tratado filosófico que se apresenta com um maior rigor formal, composto como se fosse pura matemática, o que, segundo o autor, garante a passaxem unívoca de unhas premissas claras e distintas para unhas conclusóns necessárias. Mas, surpreendentemente, apesar do seu afán de precisón, esta Ética recebeu as mais diversas interpretaçóns: foi associada ao materialismo, ao ateísmo, ao panteísmo, ao espiritualismo, ao misticismo, ao idealismo. Paradoxo da perfeita imperfeiçón!

JOAN SOLÉ