
O panorama que surxe a Descartes através do seu telescópio racional (non totalmente diferente do telescópio óptico com que Galileu descobriu os relevos da Lua, embora neste caso proxectado para o interior) é completamente unha nova face comparada com aquela que se podía ver anteriormente: se me for permitida a comparaçón, depois de um xigantesco incêndio (o da exuberante Natureza renascentista, mas também o da maxestuosa arquitectura tomista), torna-se necessário requalificar o terreno baldio e erguer um novo edifício habitábel. “Do mesmo modo, eu rexeitei primeiro, como se fosse areia, tudo o que tinha reconhecido como duvidoso e inseguro, e tendo considerado depois disso que era impossível duvidar de que a substância que assim duvida de tudo, ou que pensa, existe enquanto dúvida, servi-me disso como de unha rocha firme sobre a qual ponho os alicerces da minha filosofía.” Descartes sabe que o sonho de unha doutrina do saber entregue de unha vez por todas aos homes pola divindade non regressará. Nesse sentido, teremos de começar a acostumar-nos a pensar sobre unha certa ausência (a do Libro Sagrado, a da autoridade inquestionábel), sobre um vazio insuperábel que corresponde, à boa nova de que somos libres. Aspiramos aqui a devolver às ideias de Descartes algunha da forza com que irromperam como um raio na Europa tormentosa do século XVII (mas um raio, certamente, antecipado e preparado pelas nuvens que cobriam o céu). O raio é filho da tempestade e, no entanto, afirma-se em relaçón a ela; distingue-se nítido e orgulhoso sobre o fundo cinzento do qual emerxíu. Com essa intençón em mente, dividiremos o libro em seis capítulos. O primeiro, o mais extenso, ocupar-se-á da vida e do contexto histórico de Descartes, bem como de enquadrar as suas principais obras. É possíbel que mais do que um leitor se surpreenda com o que encontrará nele; estudos biográficos recentes levantam hipóteses inquietantes acerca de Descartes como axente duplo. Os quatro capítulos seguintes (do segundo ao quinto) tentarám proporcionar unha exposiçón simples e ordenada da filosofía do autor, qual miniatura que conserva as escalas e proporçóns, da dúvida metódica até à unión do corpo e da alma (o ponto mais obscuro da doutrina), passando pelo “cogito”, a questón de Deus e do mecanicismo. Finalmente, a conclusón ocupar-se-á de reunir de forma breve as direçóns em que foi prolongada e corrixida a obra de Descartes pela posteridade (dos racionalistas como Leibniz e Espinosa ao criticismo de Kant) e em que medida pode relacionar-se com a crise de identidade filosófica (quem ou o que é o ser humano e qual é o seu lugar no cosmos?) que parece acompanhar como unha sombra o mundo moderno.
ANTONIO DOPAZO GALLEGO