Arquivos diarios: 19/09/2019

MONTAIGNE (LA BOÉTIE)

“Quando a morte xá o tinha agarrado polo pescoço, La Boétie nomeara-o, no seu testamento, como herdeiro “da sua biblioteca e dos seus papéis”, na verdade, de unha parte da sua “librairie”. Estes manuscritos inéditos, tinha-os entregado a Montaigne, implorando-lhe para que fossem publicados e o amigo lhe reservasse, assim, “um lugar”. A “narraçón” montaigniana daquela longa agonia de morte encontra-se no “fragment” da celebérrima carta dirixida pelo bordalês ao pai, publicado muitos anos depois do desaparecimento de La Boétie, na primeira ediçón das suas obras a cargo de Montaigne. La Boétie desfrutou de unha breve existência, definida por zonas de sombra; unha biografía avarenta. Humanista e maxistrado, presidente do Parlamento de Bordéus, é o “íntimo irmán e inviolável amigo” de Montaigne. Unha relaçón quase passional e exclusiva, unha espécie de bulimia afectiva, nos límites da enerxía explosiva e “fatale” do espírito. Em Da Amizade, Montaigne descrebe (até ao matiz extremo) os traços indeléveis daquele vínculo essencial, paradoxal, inextrincábel que marcou durante quatro anos a sua existência e que, a partir daí, começou a languidescer. Unha morte precoce e horríbel privou-o da amizade completa e perfeita, irrevogábel reduçón a metade (de dous para um): agora parece-lhe “ser apenas metade…” (I,28). Durante a viaxem a Itália, a Bagni di Lucca (alla Villa), na manhám de unha quinta-feira de Maio (enquanto escreve ao senhor Arnaud d’Ossat) invadi-lo-á um “amargo” pensamento sobre La Boétie, ao ponto de ficar aturdido pola melancolía. Passaram quase dezoito anos desde a morte de Étienne, mas o calor perdido da sua amizade cría o vazio da ausência, apenas preenchido graças à escrita dos “Ensaios”. La Boétie tinha dedicado três longos poemas latinos, os “Poemata” (I, iii, 20) a Montaigne, ao seu vínculo perfeito e intenso. A obra mais famosa de La Boétie (o Discurso da Servidón Voluntária), significativo legado ao “herdeiro”, nunca foi publicada por Montaigne devido a motivos políticos. Mas, se as palabras perante a morte son ontoloxicamente verazes e insubstituíveis (a súplica de receber “um lugar”), o bordalês non renunciou a preservar a sua memória.

NICOLA PANICHI