Arquivos diarios: 28/08/2019

SÓCRATES (O SÁBIO QUE NADA SABIA)

Sócrates é, sem marxem de dúvida, unha das personaxens mais fascinantes e enigmáticas da história da filosofía e, há que dizê-lo, de toda a história em xeral. Fascinante, porque as fontes antigas retratam-no como um homem admirável pola sua profunda humanidade e dignidade moral, aliadas a unha índole divertida e trocísta. Enigmático, porque muitas son as incógnitas que pairam sobre a sua figura histórica, devido em grande medida à sua recusa em deixar obras escritas. O grosso do que dele sabemos provém de Xenofonte, de algunhas mençóns realizadas por Aristóteles e, em grande parte, de Platón, que o convertíu em protagonista de muitos dos seus diálogos. Esta circunstância orixinou a denominada “questón socrática”, isto é, a dúvida de se o que neles se relacta corresponde ao efectivamente dito e pensado pelo próprio Sócrates, ou se Platón o utiliza como mero recurso para pôr na sua boca as ideias do próprio Platón. O que está fora de qualquer dúvida é que a sua figura teve um impacto decisivo na vida de Platón que, após conhecê-lo, decidiu abandonar as veleidades artísticas (sonhara ser poeta tráxico) e as ambiçóns políticas na pólis para se dedicar à filosofía, e que dele herdou pelo menos o “xérmen” do que viria a ser a posteriori o seu pensamento filosófico. Pelo que sabemos, Sócrates nasceu em Atenas por volta do ano 469 a. C. (foi condenado à morte em 399 a. C., quando, segundo nos narra Platón, tinha 70 anos). Era filho de um escultor ou canteiro, Sofronisco, e de unha parteira, Fenárete, pelo que poderíamos dizer que provinha de unha modesta família de classe média. Os episódios da sua vida que chegaram até nós transmitem-nos a imaxem de um homem dotado de unha profunda integridade moral e de unha enorme coraxem, demonstrada quer como hoplita (soldado a pé) no campo de batalha, como nos narra a personaxem de Alcibíades em O Banquete, quer na vida política da pólis, onde se recusou a cometer inxustiças ou vergar-se perante elas, arriscando mesmo a própria vida. Exemplo ilustractivo é o episódio da detençón de Leonte (ou León) de Salamina que nos narra Platón em A Apoloxía de Sócrates. Durante o rexime de terror dos Trinta Tiranos, Sócrates foi instado, xuntamente com outros quatro concidadáns, a dirixir-se a Salamina para deter León (provavelmente um xeneral filodemocrático), como passo prévio à execuçón. Sócrates recusou-se a participar nunha acçón inxusta, logo, ao acabar a reunión em que lhes tinham comunicado a ordem, dirixiu-se calmamente para casa, embora sabendo que a desobediência podia custar-lhe a vida: “Davam frequentemente ordens dessas a outros, porque queriam implicar tantos quantos pudessem. Logo aí e por actos e non por palabras eu pude mostrar, – para non falar com rudeza excessiva – que non me importaba nada com a morte, mas que xamais cometería um acto inxusto ou nocivo, pois só isso me importaba. Forte como era, esse governo non me intimidou, a ponto de me levar a cometer algunha inxustiça. Depois de sairmos da Rotunda, os outros foram buscar León a Salamina, enquanto eu fún para casa. Talvez viesse também a ser morto, se o governo non tivesse sido rapidamente derrubado. Destes factos tenho muitas testemunhas.”

E. A. DAL MASCHIO