Arquivos diarios: 24/08/2019

FILOSOFÍA MEDIEVAL (OS TRADUCTORES)

O principal autor traduzido foi Aristóteles, de quem os árabes tiveram ao seu dispor todo o Corpus, salvo a Política. Os cientistas gregos mais importantes foram traduzidos para árabe: Hipócrates e Galeno em medicina, Apolónio de Perga, Euclides de Tiro e Arquímedes de Siracusa em matemática, e Hiparco e Cláudio Ptolomeu em astronomia. É significativo o caso do mais famoso médico do mundo antigo, Galeno, de quem se conservam mais manuscritos árabes do que gregos e, o que é ainda mais surpreendente, mais antigos do que os textos orixinais transmitidos. Entre os traductores destacaram-se os cristáns sírios, que falavam grego; começaram por traduzir para siríaco e posteriormente para árabe. Prestaram unha atençón preferencial ao legado grego, mas traduziram também importantes obras literárias e científicas persas e indianas, que, através da língua árabe, passaram depois ao Occidente cristán. A partir de finais do século XI, o vento de leste começou a soprar sobre a Europa; trazia consigo a semente da ciência grega. Introduziram-se desta forma as obras dos filósofos do islán oriental: al-Kindi, al-Farabi e Avicena. Xuntamente com os velhos textos gregos agora recuperados, chegabam também novos escritos de matemática, astronomia e literatura que traziam o perfume de lonxanas terras. A língua árabe servia de transmissora, mas os velhos povos – Índia, Pérsia, Exípto, Mesopotâmia – tinham deixado o selo da sabedoria secular na sua contribuiçón civilizadora. Esta transferência culminou com as traduçóns arábico-latinas através das quais se renovaria profundamente a cultura cristán do medievo. Tán árdua tarefa realizou-se fundamentalmente em Espanha e em menor escala na Sicília. Os xudeus e os moçárabes fixérom de intermediários no trabalho de traduçón. Símbolo deste descobrimento latino das ciências grega e árabe foi a cidade de Toledo. O rei Afonso X, o “Sábio” (século XIII) protexeu este movimento cultural, promovendo inclusive as traduçóns do árabe para o romance, algo até entón insólito. Após o isolamento europeu da Alta Idade Média, recuperaba-se com estes intercâmbios o legado científico grego e retomavam-se os contactos com o Oriente, apoxeu da civilizaçón. A Europa olhava para o sul. Serve de exemplo a viaxém a Espanha de Gerberto de Aurillac (perto de 945-1003), o papa do Milénio com o nome de Silvestre II, interessado na ciência árabe, que estudou matemáticas e astronomia na península.

ANDRÉS MARTÍNEZ LORCA