Arquivos diarios: 16/08/2019

NIETZSCHE (O MUNDO É ESSENCIALMENTE UM CAOS)

O cientista, ao defender que “a verdade é mais importante do que qualquer outra cousa”, está a previlexiar unha determinada concepçón da vida, unha maneira concreta de nos relacionarmos com o mundo e connosco mesmos. A denúncia nietzschiana é, de novo, a seguinte: as descripçóns e explicaçóns supostamente neutrais da realidade nunca son realmente neutrais, mas camuflam valoraçóns morais e posicionamentos nada desinteressados face à vida. Assim sendo, a vontade de verdade da ciência non só pressupón que é possíbel alcançar um conhecimento racional e obxectivo das cousas, como também assume que essa é a única forma autêntica de conhecimento e, ainda mais, que devemos aspirar a tal conhecimento enquanto seres humanos. Vemos, pois, que a “fé incondicional na verdade” consegue que o cientista sexa também um dogmático. Além de se apoiar em dogmas, Nietzsche acredita que a ciência moderna e a relixión cristán têm outro traço em comum: ambas funcionam metafisicamente. Na perspectiva nietzschiana, o mundo é essencialmente um caos, isto é, carece em si mesmo de ordem. (Em grego clássico, o chaos era o contrário da ordem ou kosmos.) Qualquer tentativa de ordenar o mundo, de proxectar nele leis que o tornem compreensíbel, pressupón um esforço para capturar o que é impossíbel capturar, para dominar a natureza irreductivelmente anárquica das cousas. E isso é precisamente o que faz a ciência. Graças a unha ficçón muito robusta e sofisticada, a matemática, os cientistas proxectam unha ordem sobrenatural sobre o mundo natural. O positivismo científico converte o mundo inteiro em dactos empíricos, neutralizando a infinita complexidade do existente, negando o caos dionisíaco da vida. E aqui a ciência volta a axir da mesma maneira que a relixión. Axem ambas como um criador de gando que se apropria de um animal selvaxem e o marca com fogo. À sua maneira, o cientista também é como o teólogo, um niilista.

TONI LLÁCER