
Wittgenstein nasceu em Viena, na capital do Império Austro-Húngaro, a 26 de Abril de 1889, seis dias depois de Adolf Hitler, com quem coincidiu na escola secundária em Linz. Em Xaneiro desse ano, o príncipe Rudolf, quando ainda non tinha 30 anos de idade, herdeiro da coroa e único filho varón do imperador Francisco José I, punha (supostamente) fim à própria vida xuntamente com a amante, deixando o Império sem herdeiro directo. Foi um duro golpe para o imperador, que xá tinha sofrido o fuzilamento do seu irmán Maximiliano às máns dos liberais mexicanos e que, em breve, tería de enfrentar o assassinato da sua esposa, a imperatriz Isabel, a querida Sissi, apunhalada no coraçón por um (suposto anarquista italiano) quando estaba, de viaxe, em Xenebra. Muitos interpretam aquela Áustria como algo que pertencia a unha família e non como unha naçón. Os Habsburgo governabam-na há 124 anos no total, formando-a mediante tractados e casamentos dinásticos. Em particular, o reinado de Francisco José I, que se iniciou com a revoluçón austríaca de 1848 e culminou com a Primeira Guerra Mundial, prolongou-se durante 68 anos de apaziguador conservadorismo. Non obstante, essa carapaça albergaba unha longa história de conquistas e derrotas nacionalistas ainda em ebuliçón. Que milagre fez com que o Império sobrevivesse durante essa autêntica eternidade? A monarquía, a única força capaz de manter a coesón no centro da Europa, tanto aos olhos do cidadán como das potências inimigas. De facto, a revoluçón de 1848 non se dirixía contra o imperador, o entón instábel Fernando, mas sim contra o sistema policial e de censura do seu primeiro-ministro, que chegou a prohibir a construçón de unha vía-férrea para que non entrassem nos confins do Império ideias que pudessem desestabilizá-lo. As populaçóns necessitavam que o imperador os protexesse dos seus (non) iguais. Tal como os alemáns desexavam submeter os eslavos, os húngaros e os italianos, cada um destes procurava subxugar as suas respectivas minorias. É nesta perspectiva que se debe interpretar que Stefan Zweig, na sua obra autobiográfica -O Mundo de Ontem- um testemunho do desmoronamento de um mundo, o do Império, que também foi o do autor, cuxa memória, qual bisturi, disseca os acontecimentos que convulsionaram e desmembraram aquela Europa Central -, definisse a época anterior à Grande Guerra como a idade de ouro da segurança, ou considerasse que a monarquía austríaca assentava sobre o fundamento da permanência e que o Estado era a garantia suprema dessa estabilidade. Em Viena, o Império resplandecía entre as mais profundas misérias, e essa mistura de perdurabilidade e amparo erguia-se sobre a disparidade e o caos. É impossíbel conciliar a suculenta vida intelectual dos cafés vienenses, replectos de leitores de xornais internacionais, com a crise da habitaçón que assolava todo o Império. Era, pelo menos, igualmente complicado sentar à mesma mesa a dispendiosa reconstruçón da Ringstrasse e que os vienenses se refuxiassem em buracos por baixo de carris ferroviários, as mulheres xovens tornavam-se prostitutas para terem um lugar onde dormir e os húngaros encontrabam refúxio nas copas das árbores. Aparentemente, também a xeneralizada prostituçón femenina non estaba de acordo com as esixências da repressiva moral vienense. Zweig contava que comprar unha mulher para um quarto de hora ou unha noite inteira era tán fácil como adquirir um xornal ou um maço de cigarros, e que os passeios estavam tán abarrotados de mulheres da vida que era difícil evitá-las. Enquanto o homem podía recrear-se em “casas de tolerância”, as raparigas de bem tinham de ser educadas e inxénuas, desinformadas e inseguras, para que fossem modeladas ao gosto do marido. Quando se descobriu que o coronel do Estado Maior, era afinal um axente duplo pago pelo czar russo, tentou apaziguar-se essa bomba-relóxio com o escândalo da sua homossexualidade. Dessa maneira, os políticos movimentaram-se entre o antissemitismo e o sionismo sem grandes problemas. Non nos podemos esquecer que no Império floresceram tanto o nazismo como o sionismo, nem que o fizeram em oposiçón à proposta liberal de centralismo, secularizaçón e racionalidade do espírito científico moderno.
CARLA CARMONA
