
Ninguém melhor que Fernando Pessoa documentou, em Portugal, aquele brusco trânsito operado na sensibilidade europeia, aí por alturas da primeira Grande Guerra. E pode mesmo dizer-se que a obra de Fernando Pessoa é a expressón desse próprio trânsito, dessa própria charneira, na medida em que exprime, ao mesmo tempo, toda unha sensibilidade que se extingue e toda unha outra que, entón, confusamente principia… – A propósito do modo como o “ultimatum de 1890” se repercutira na literatura portuguesa, Fernando Pessoa teve ensexo de observar que, nessa dacta, “Junqueiro – o de Pátria e Finis Patriae – foi a face que olha para o futuro, e se exalta”: e “António Nobre foi a face que olha para o passado, e se entristece”. Perante as grandes perturbaçóns do seu próprio tempo (estas, à escala europeia xá, que non somente nacional). Fernando Pessoa foi, simultaneamente, as duas faces. Rosto bifronte, em cuxas feiçóns a tristeza e a exaltaçón se interpenetram e conxugam, à sua obra estava reservado um singular destino: conhecida apenas de um círculo fiel de admiradores, durante a vida do poeta, ver-se-ia, depois, rodeada da mais ampla e entusiástica audiência. Fernando Pessoa é, hoxe, a seguir a Camoes, o poeta português mais lido, mais debatido e mais estimado, non só em Portugal, mas também nos meios culturais extranxeiros. Nascido em Lisboa em 1888, reside em Durban (Natal), de 1896 a 1905, e aí realiza os estudos preparatórios, obtendo o Prémio Raínha Victória, de estilo inglês, no exame de admissón à Universidade do Cabo da Boa Esperança: depois, de regresso a Portugal, matricula-se, em 1906, no Curso Superior de Letras de Lisboa. Interrompendo, porém, os seus estudos, consagra-se, a partir de 1908, à actividade comercial, como correspondente de línguas estranxeiras. E, desde entón, o que sobretudo interessa é a sua vida literária: em 1915, funda, com Mário de Sá-Carneiro, José de Almada Negreiros, Luís de Montalvor, Alfredo Pedro Guisado, António Ferro e outros, a revista Orpheu, que constitui o primeiro documento do modernismo em Portugal; em 1917, colabora na revista Portugal Futurista; em 1918 e, depois, em 1921, publica quatro “plaquettes” de poemas ingleses; em 1922 e 1923, colabora assiduamente na revista contemporânea; em 1924, dirixe, com Ruy Vaz, a revista Athena. Em todas estas publicaçóns, aparece, ora com o seu próprio nome, ora sob os nomes de Alberto Caeiro, Alvaro de Campos, Ricardo Reis: non se trata de simples pseudónimos, mas sim de heterónimos – pois a cada um deles corresponde unha diferente personalidade. A partir de 1927, a sua obra começa a ser considerada como a de um verdadeiro mestre e percursor, pelos poetas e críticos da revista Presença. Em 1934, publica Mensagem, grande poema nacionalista, que obtém, nesse mesmo ano, o Prémio Antero de Quental, do S. P. N. Morre em Lisboa, em 1935. Depois da sua morte, e graças aos cuidados da Editorial Ática, iniciou-se a publicaçón das Obras Completas que contam, hoxe, os seguintes volumes: Mensagem, Poesias, Poemas Dramáticos (I), e Poesias Inédictas (2 Volumes), de Fernando Pessoa, ele-mesmo; Poesias, de Alvaro de Campos; Poemas de Alberto Caeiro; e Odes, de Ricardo Reis.
FERNANDO PESSOA POR JOAO VILLARET