Arquivos diarios: 02/08/2019

O CÍRCULO DE VIENA

O positivismo lóxico é um dos movimentos filosóficos mais importantes do século XX. Caracteriza-se por unha crítica radical de todas as tradiçóns filosóficas anteriores, em especial da metafísica. O positivismo lóxico é caracterizado, por um lado, como “positivismo”, pela actitude declaradamente cientifista, e. por outro, como “lóxico”, porque em muitas das suas análises e propostas faz uso da lóxica matemática (criada décadas antes por Gottlob Frege, Bertrand Russel e outros) como ferramenta privilexiada da análise filosófica. Segundo o positivismo lóxico, a análise dos sistemas metafísicos mostra que non som nem verdadeiros nem falsos, mas simplesmente carentes de sentido, porque non dán um sentido preciso aos termos utilizados nem indicam em que condiçóns poderíamos averiguar a certeza ou a falsidade das suas afirmaçóns. O positivismo lóxico surxíu nos anos imediatamente posteriores à Grande Guerra. Na sua acepçón mais estricta, é identificado com o Círculo de Viena, fundado no início dos anos 20 na capital austríaca pelo físico e filósofo Moritz Schlick. Os outros protagonistas do Círculo de Viena foram Rudolf Carnap (o mais influente para a posteridade), Otto Neurath (sociólogo de orientaçón marxista num sentido lacto, que foi membro fundador da efémera República Soviética da Baviera, em 1919), Phillipp Frank (um físico muito próximo de Einstein) e Herbert Feigl (outro físico). Os positivistas lóxicos consideravam Ernst Mach, Bertrand Russell e Ludwig Wittgenstein os seus mentores. O Tractatus Logico-Philosophicus. de Wittgenstein, com o seu extremo rigor lóxico e a sua crítica sem concessóns dos sistemas metafísicos como lucubraçóns carentes de sentido, causou neles um grande impacto. Mas o próprio Wittgenstein nunca foi formalmente membro do círculo. O Círculo de Viena só durou até meados dos anos 30. Por essa altura, devido ao estabelecimento de reximes fascistas na Áustria e na Alemanha, e depois por toda a Europa continental, o Círculo deixou de existir, Schlick foi assassinado em 1936 por um simpatizante nazí e os outros tiveram de fuxir da Europa, quase todos para os Estados Unidos. Num sentido mais amplo, o positivismo lóxico non se limita ao Círculo de Viena nem ao período entre guerras. Houve grupos de filósofos de tendências semelhantes em Berlim, na Polónia, nos países nórdicos, em Inglaterra e nos Estados Unidos. Neste último país, o positivismo lóxico foi a filosofía da ciência dominante até perto do final da década de 60. Provavelmente, non existirá hoxe um filósofo que se classifique a sí mesmo como positivista lóxico, porque, pela sua própria dinâmica, a corrente viu-se levada à autocrítica e à detecçón de problemas graves e irresolúveis nos seus próprios princípios. No entanto, radica aí mesmo a sua grandeza: é o único exemplo histórico de unha abordaxem filosófica que chegou por si própria à conclusón de que os seus pressupostos fundamentais non estavam correctos. Todavia, pela honestidade intelectual, pelo rigor conceptual e metodolóxico sem precedentes e pela solidez dos conhecimentos científicos em que assentou, o espírito do positivismo lóxico continuou a exercer a sua influência até aos dias de hoxe.

C. ULISES MOULINES

FERNANDO PESSOA

Ninguém melhor que Fernando Pessoa documentou, em Portugal, aquele brusco trânsito operado na sensibilidade europeia, aí por alturas da primeira Grande Guerra. E pode mesmo dizer-se que a obra de Fernando Pessoa é a expressón desse próprio trânsito, dessa própria charneira, na medida em que exprime, ao mesmo tempo, toda unha sensibilidade que se extingue e toda unha outra que, entón, confusamente principia… – A propósito do modo como o “ultimatum de 1890” se repercutira na literatura portuguesa, Fernando Pessoa teve ensexo de observar que, nessa dacta, “Junqueiro – o de Pátria e Finis Patriae – foi a face que olha para o futuro, e se exalta”: e “António Nobre foi a face que olha para o passado, e se entristece”. Perante as grandes perturbaçóns do seu próprio tempo (estas, à escala europeia xá, que non somente nacional). Fernando Pessoa foi, simultaneamente, as duas faces. Rosto bifronte, em cuxas feiçóns a tristeza e a exaltaçón se interpenetram e conxugam, à sua obra estava reservado um singular destino: conhecida apenas de um círculo fiel de admiradores, durante a vida do poeta, ver-se-ia, depois, rodeada da mais ampla e entusiástica audiência. Fernando Pessoa é, hoxe, a seguir a Camoes, o poeta português mais lido, mais debatido e mais estimado, non só em Portugal, mas também nos meios culturais extranxeiros. Nascido em Lisboa em 1888, reside em Durban (Natal), de 1896 a 1905, e aí realiza os estudos preparatórios, obtendo o Prémio Raínha Victória, de estilo inglês, no exame de admissón à Universidade do Cabo da Boa Esperança: depois, de regresso a Portugal, matricula-se, em 1906, no Curso Superior de Letras de Lisboa. Interrompendo, porém, os seus estudos, consagra-se, a partir de 1908, à actividade comercial, como correspondente de línguas estranxeiras. E, desde entón, o que sobretudo interessa é a sua vida literária: em 1915, funda, com Mário de Sá-Carneiro, José de Almada Negreiros, Luís de Montalvor, Alfredo Pedro Guisado, António Ferro e outros, a revista Orpheu, que constitui o primeiro documento do modernismo em Portugal; em 1917, colabora na revista Portugal Futurista; em 1918 e, depois, em 1921, publica quatro “plaquettes” de poemas ingleses; em 1922 e 1923, colabora assiduamente na revista contemporânea; em 1924, dirixe, com Ruy Vaz, a revista Athena. Em todas estas publicaçóns, aparece, ora com o seu próprio nome, ora sob os nomes de Alberto Caeiro, Alvaro de Campos, Ricardo Reis: non se trata de simples pseudónimos, mas sim de heterónimos – pois a cada um deles corresponde unha diferente personalidade. A partir de 1927, a sua obra começa a ser considerada como a de um verdadeiro mestre e percursor, pelos poetas e críticos da revista Presença. Em 1934, publica Mensagem, grande poema nacionalista, que obtém, nesse mesmo ano, o Prémio Antero de Quental, do S. P. N. Morre em Lisboa, em 1935. Depois da sua morte, e graças aos cuidados da Editorial Ática, iniciou-se a publicaçón das Obras Completas que contam, hoxe, os seguintes volumes: Mensagem, Poesias, Poemas Dramáticos (I), e Poesias Inédictas (2 Volumes), de Fernando Pessoa, ele-mesmo; Poesias, de Alvaro de Campos; Poemas de Alberto Caeiro; e Odes, de Ricardo Reis.

FERNANDO PESSOA POR JOAO VILLARET