Arquivos diarios: 17/07/2019

MAQUIAVEL (PASSAR A SER FAMOSO POR ALGO QUE NON SE DIXO)

Desta forma, Maquiavel implantou a lenta emancipaçón do ser humano em relaçón a duas férreas correntes que o prendiam a um obscuro passado de submissón: a concepçón medieval do homem e a mais estrícta moral cristán. Deu, assim, o primeiro passo da humanidade rumo à sua maioridade e, ao mesmo tempo, abriu um caminho que o levou a desprezar os valores relixiosos tradicionais, aqueles que premeiam a subordinaçón e a passividade terrenas a favor de unha suposta salvaçón fora do mundo. Porque a sua filosofía é fundamentalmente práctica e porque tem os pés bem assentes na terra. Non está nada preocupado com o destino reservado aos homes pela Providência após o Xuízo Final. A orixinalidade de Maquiavel na história do pensamento ocidental é neste sentido, manifesta. Opón-se à fraxilidade resultante dos severos valores que rexem a vida privada dos fiéis devotos e opta pela moral mais vigorosa e vital do paganismo da Roma pré-cristán. Ao descartar certos preceitos antropolóxicos e certas ideias pré-concebidas, substituindo-os por critérios meramente prácticos, Maquiavel limpa o mato que cobria um “caminho ainda non trilhado por ninguém”, segundo as suas próprias palabras, mas por onde, depois dele, transitará toda unha série de reputados filósofos (morais e políticos) como Espinosa, Nietzsche ou do próprio Foucault. Como escreverá Ernst Cassirer, com Maquiavel, na realidade, encontramo-nos “às portas do mundo moderno”. Como resultado, Maquiavel é um dos autores mais universalmente citados. Desde a publicaçón da sua obra, surxíu unha grande quantidade de interpretaçóns. Unha numerosíssima e variada colecçón de actores políticos seguem todos os dias os conselhos que o florentino nos legou há mais de quinhentos anos. A sua popularidade é tal que até o diccionário possui o adxectivo “maquiavélico”, que, xuntamente com “pírrico” e “draconiano”, constituiem o conxunto de termos relacionados com a política que têm orixem em pessoas. Esta desmesurada notoriedade – non devemos esquecer que Maquiavel é um filósofo político do século XVI com unha produçón relativamente escassa -é a melhor e mais barata publicidade para a sua obra mais universal, O Príncipe, recordista de vendas que non passa de moda, recentemente adaptada até ao xénero da banda desenhada “manga”, e que o próprio autor nunca chegou a ver publicada em vida. No entanto, este mesmo fascínio xeral, quer sexa para defender ou para atacar o florentino, non é assim tán benéfico para a teoría que desenvolveu. Porque, como todos os libreiros sabem, o facto de se venderem muitos libros non significa que eles sexam lidos. E porque se há um pensador que non se debe citar sem o devido contexto e um mínimo de explicaçón, esse é Maquiavel. Porém, 99,9% das vezes em que este autor é invocado, ignoram-se essas precauçóns, precisamente porque a citaçón é irmán da brevidade, e a concisón é prima direita do espanto e do sensacionalismo. De tudo isto podemos facilmente deducir que a exposiçón pausada e sossegada do pensamento de Maquiavel é de unha relevância particular. Um exemplo disso é o sobexamente conhecido aforismo “o fim xustifica os meios”. Esta é a inesquecível tese pela qual Maquiavel é recordado, apesar de ele nunca a ter chegado a formular nestes termos. Omitindo o facto curioso de passar à posteridade por algo que non dixo, a atribuiçón desta máxima ao florentino é inxusta por vários motivos que trataremos detalhadamente no capítulo final.

IGNACIO ITURRALDE BLANCO