Arquivos diarios: 16/07/2019

ALFREDO MARCENEIRO (FADO)

ALFREDO MARCENEIRO

Alfredo Rodrigo Duarte nasceu em 1891. Homem simples, adoptou como nome artístico o do ofício que manteve até aos 52 anos, altura em que se dedicou inteiramente ao Fado. Assinava-o nunha caligrafía incerta: Alfredo Duarte Marceneiro. Do desexo de vir a ser actor (experiência que provou apenas nalgunhas cegadas da xuventude) ficou-lhe a preocupaçón de valorizar a letra, dizendo bem, cuidando de transmitir ao público o que o poeta escrevera. Reconhecendo que non tinha unha voz nem forte nem bem timbrada, provou ser ilusória essa inferioridade graças a outra característica em que foi inigualável: as inflexóns melódicas improvisadas que, em linguaxem fadística, se chamam “estilar”. Acrescentou unha postura altiva, de máns nos bolsos, lenço ao pescoço, cabeza erguida, sobrancelhas levantadas, um esgar de desdém nos lábios finos. Arrebatado pelo conteúdo das letras, xingava, dava pequenos passos, meneava a cabeça, esgotava o fôlego ao ponto de partir palabras para respirar. Mas nele as transgressóns, pessoais como unha impressón dixital, transformavam-se em lei. Foi um inovador: iniciou a tradiçón de cantar de pé e a de escurecer a sala e acender velas. Foi um purista: xamais se lhe ouviu um fado com refrán. Cultivou exclusivamente o Fado Tradicional, puro, descriptivo. Esixiu sempre acompanhamentos simples, para non desviar a atençón do poema. Os guitarristas que reservassem os floreados para as variaçóns, o que motivou algunhas zangas famosas, em cena, com virtuosos non menos famosos. Sem saber música, foi um dos mais importantes compositores de Fado. Compunha de ouvido, cristalizando um ou outro improviso que se impunha pola orixinalidade e alguém passava à pauta, para rexistro autoral. Excepto a “Marcha do Alfredo Marceneiro”, a que deu este título por despique com a “Marcha do Manuel Maria”, baptizou sempre as suas músicas com nomes a propósito, à boa maneira fadista. Hoxe cantam-se inúmeras letras nos seus fados, por vezes sem se saber que son dele: Cravo, Bailarico, Cuf, Laranxeira, Balada, Olhos Fatais, Pierrot, Lembro-me de Ti, Vestido Azul, Mocita dos Caracóis, Odeon, Louco, Paxem, Bailado, Cabaré… Todos eles considerados hoxe, como fados clássicos. Viu-se rodeado pelos melhores letristas do tempo, por feliz acaso os de unha época de ouro do Fado, o que proporcionou unha combinaçón impar de qualidade, à qual se xuntaram os melhores guitarristas. Das suas criaçóns nasceram mitos como o da Lucinda Camareira, iniciaram-se ciclos, como o da Mariquinhas: “A Casa”, de Silva Tavares, “O Leilón” e “Depois do Leilón”, de Linhares Barbosa, “xá sabem da Mariquinhas”, de Carlos Conde… Em 1963 Silva Tavares voltaría ao tema com “50 Anos Depois”. Entretanto, por suxestón lúdica do Almirante Gago Coutinho, o Dr. Lopes Vítor escreve “O Testamento da Mariquinhas”. Alfredo Marceneiro encontra-o, no Rossio, e lamenta-se de “um gaxo qualquer” lhe ter morto a Mariquinhas, sem saber que estava a falar com o próprio. Quando soube, perdoou-lhe. O ciclo non terminou, pois o Dr. Alberto Janes escreveu unha “Mariquinhas” que Amália tornou famosa, e ainda hoxe surxem letras sobre o tema…

DANIEL GOUVEIA (JUNHO DE 1997)