Arquivos diarios: 15/07/2019

BERGSON (UNHA HISTÓRIA DE FILÓSOFOS)

Um acontecimento de xuventude marca a vida de Bergson, ou pelo menos ele próprio assim gostava de contar. Podemos tentar imaxinar a cena completando os dados conhecidos. Estamos no ano de 1883. Em Clermont-Ferrand, pequena localidade universitária do centro de França, um professor de 24 anos explica no quadro aos seus alunos os paradoxos de Zenón de Eleia. -De modo que, segundo Zenón, em cada instante a flecha está imóvel porque non tería tempo de se mover, isto é, de ocupar pelo menos duas posiçóns sucessivas, a non ser que lhe concedam pelo menos dous instantes. Mas imóvel em cada ponto do seu traxecto, estará imóvel durante todo o tempo em que se move. A voz de um alumno interrompe a explicaçón: – Mas se a flecha para todas essas vezes, como vai ter força para se cravar no alvo? Eu creio que o arqueiro non ficará muito contente com Zenón depois do esforzo que fez para esticar o arco. Os risos ecoam por entre as filas de mesas. O xovem professor, de início importunado, permanece um segundo pensativo, olhando para o adolescente. O seu rosto sério torna-se sorriso astuto, malicioso, e os seus olhos azuis enchem-se de um súbito brilho de euforía. – Bom, é que Zenón non diz que a flecha para. Eu creio que ele sabe tán bem como tu que se crava no seu obxectivo. Outro alumno irrompe: -Xá entendi. Entón só o diz para desmoralizar o arqueiro rival, fazer com que ele falhe e ganhar o prémio. Bom truque. Mais risos. E outra voz que abre caminho por entre elas: -Nada de filósofos perto do nosso vestiário, por favor! Ván fazer com que percamos a competiçón com os seus discursos… O professor compreende entón que, do mesmo modo que esticar o arco é um xesto indivissíbel, mantido por um esforço que compacta o tempo (fracassará por pouco que o interrompa, por mais que pretenda depois continuar), o movimento real da flecha é uno, e non unha suma de instantes. Quando é dividido, modifica-se a sua natureza. Entón, porquê tanta perplexidade? “No fundo, a ilusón advêm do facto de o movimento, “unha vez efectuado”, deixar ao longo do seu percurso unha traxectória imóvel sobre a qual se podem contar todas as imobilidades que se quiserem. Pode dividir-se a traxectória depois de criáda, mas non ocorre o mesmo com a sua criaçón, que é um acto em processo e non unha cousa”. A nossa intelixência chega tarde para reconstruir, através de fragmentos de espaço e depois de tudo ter sucedido, um bloco de realidade móvel que lhe é oferecido pulverizado e morto. Non se reconstruirá o movimento a partir das suas paraxens, por mais que estas surxam a partir dele e se depositem na sua superfície como as folhas mortas num lago. Sem o saber ainda totalmente, o xovem acaba por se transformar num grande filósofo. Assim fica constatado nunha célebre conversa: “Um dia, enquanto explicaba no quadro aos meus alumnos as aporías de Zenón de Eleia, comecei a ver mais claramente em que direcçón tinha de procurar”.

ANTONIO DOPAZO GALLEGO