Arquivos diarios: 08/07/2019

ESPINOSA (O CULMINAR DO RACIONALISMO)

A inesperada sobrevivência de Espinosa nos nossos dias está replecta de paradoxos, relacionados tanto com a sua vida no século XVII como com o carácter intemporal da sua obra ou da sua leitura em pleno século XXI. Unha quantidade que, sem dúvida, ultrapassa o que se devería esperar de um pensador que viveu com discripçón e coherência e que construiu um sistema claro que é o culminar do racionalismo. Estas contradiçóns (muitas delas só aparentes, como veremos em seguida) têm o efeito de tornar muito atractivo o Espinosa histórico, por mais envolvido que estexa nunha auréola de mistério, e de transformar a aproximaçón às suas ideias nunha aproximaçón ao mesmo tempo decidida e insegura, irresistível e intencional. Vexamos os principais paradoxos, aparentes ou reais. O paradoxo biográfico: Espinosa foi um homem íntegro, honrado e pacífico contra o qual se lançou unha violência furibunda antes, durante e depois da sua vida. Promoveu a tolerância e o respeito, a independência de pensamento e a paz civil. O seu ideal de existência humana, assumido por si próprio, a vida sóbria e retirada do sábio, dedicada ao pensamento sereno e relacionada em paz com os homes, chocou com a aversón e o ódio. Os seus avôs e pais foram expulsos da Península Ibérica por serem xudeus, depois de se converterem à força ao cristianismo. Os Espinosas (apelido comum em Espanha e Portugal) estabeleceram-se em Amesterdám, naquela época o lugar mais tolerante da Europa. Mas na cidade neerlandesa, onde nasceu, Baruch sería expulso da Sinagoga, a comunidade xudaica, por defender ideias contrárias à relixión oficial; o comité directivo lançou-lhe, no seu comunicado, as mais terríveis imprecaçóns: “Maldito sexa de dia e maldito sexa de noite, maldito sexa em seu deitar, maldito sexa em seu levantar, maldito sexa em seu sair e maldito sexa em seu entrar”. Quando os amigos editaram a sua obra completa, poucos meses depois da sua morte, as autoridades prohibiram-na, rexeitaram-na e mandaram queimá-la. Parece um ódio excessivo contra alguém que tinha gravado no anel de sinete o lema vital em latim: “Caute”, “sê cauto”.

JOAN SOLÉ