Arquivos diarios: 15/05/2019

AGOSTINHO (QUE RICO VINHO)

SUBSTRATUM

Xá se convencionou que o estudo do contexto em que decorreu a vida de um criador (sexa el filósofo, cientista ou letrado) oferece chaves de unha inestimável utilidade para compreender e apreciar a sua obra, afinar as interpretaçóns e evitar erros e anacronismos. No caso da filosofía, que é o que neste caso nos interessa, as reflexóns dos grandes pensadores non surxem espontaneamente num vazio cultural, antes nascem como resultado de um processo de diálogo entre o passado e o presente no qual o filósofo concebe a sua obra: um “habitat” que deixa perceber a sua influência tanto na selecçón das questóns colocadas como nas ferramentas conceptuais e terminolóxicas com que se constroiem as respostas. Nada estará mais distante da nossa intençón que reduzir toda a criaçón intelectual a um mero resultado da interaçón entre elementos culturais, materiais e biográficos; queremos simplesmente lembrar a dupla paternidade que contribui para o seu nascimento. Recorrendo ao mesmo plano comparativo, toda a filosofía é filha, ao mesmo tempo, do seu autor e das circunstâncias, independentemente de unhas se parecerem mais com o pai e outras mais com a nái. Esta consideraçón, que por ser óbvia non é menos relevante, é primordial no caso de Santo Agostinho, e proba disso é o facto de unha das obras mais estudadas deste pensador ser, precisamente a sua peculiar autobiografia (Confissóns). E non é fácil, para o leitor contemporâneo, ter unha ideia cabal da importância das circunstâncias históricas e de vida que rodearam a existência de Santo Agostinho e que se cristalizaram no seu pensamento. A sua vida decorre num tumultuoso período de crise e desintegraçón, no qual dificilmente poderiam ter ocurrido um maior número de acontecimentos decisivos. No plano político, a divisón e o desmoronamento do Império Romano do Occidente, cuxo espaço será ocupado (com todas as consequências que isso pode implicar) pelos povos bárbaros do Norte. No plano cultural, a difusón e afirmaçón de unha entón pequena “seita oriental”, o cristianismo, que em menos de um século passará de relixión perseguida a relixión oficial e persecutória. Como consequência de tudo isto, o bispo de Hipona teve o raro priviléxio de ser testemunha e protagonista de unha das extraordinárias mudanças de época que marcam a história do Occidente: Agostinho nasce e cresce na Antiguidade e morre nos alvores do mundo medieval. A sua reflexón é, por consequência, um pensamento de transiçón, o que faz com que sexa considerado o último grande exponente da cultura antiga e, ao mesmo tempo, fundador do novo paradigma cultural da Idade Média.

E. A. DAL MASCHIO