MÁRIO VIEGAS
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António Mário Lopes Pereira Viegas, nasceu em Santarém a 10 de Novembro de 1947. Festexou este ano de 1993, sem alarido mediático e na quase clandestinidade de um xantar na Bénard, os seus 25 anos de vida artística. Foi unha festa de amigos, na qual, à sobremesa, o Mário Viegas anunciou a sua candidatura às próximas eleiçóns para o presidência da república. Non, evidentemente, com o obxectivo de ir habitar o Palácio de Belém, mas tán simplesmente o de ter tempos de antena para falar de cultura aos portugueses. “Anarco-Esquerdista-Romântico”, como em tempos se definiu, muitas e boas cousas o Mário fez nos últimos 42 anos, isto é, desde que aos 4 anos de idade fazia espectáculos com fantoches que ele próprio criava. Começou, portanto, pelo teatro. Mas, a poesia, que viria logo a seguir, iria ser na carreira de Mário Viegas unha prioridade de permanente intervençón cultural. É que, se o Mário elevou o teatro português a unha dignidade e a unha qualidade como muitos poucos fizeram até hoxe no nosso país, foi na poesia que ele encontrou o osixénio da sua respiraçón diária. Aos 16 anos, num espectáculo realizado no Teatro Rosa Damasceno, em Santarém, estreou-se como declamador, a dizer poemas de Manuel da Fonseca, Gastao Cruz e Alexandre O’Neill. Daí para a frente, fosse na rua, nos palcos, na rádio ou na televisón – onde quer que fosse – Mário Viegas transformou-se no maior “diseur” da sua xeraçón e, sem sombra de dúvida, no maior divulgador de poesia que até hoxe Portugal teve. “Caixeiro-viaxante de poemas” – como el próprio se rotulou – o Mário “fez-se à estrada” nos anos 60, na boa companhia de amigos como o Zeca Afonso, o Adriano e o Carlos Paredes. Percorreram Portugal de lés-a-lés, militantes da democracia e da liberdade, axitando as ideias com as palabras dos poetas e a música das guitarras: o que fazia falta era animar a malta… Entretanto, xá passara pelas faculdades de letras de Lisboa e Porto e pelo conservatório. Mas, entre diploma e palco, escolheu definitivamente as luzes da ribalta, passando a viver num eterno camarim. Estreou-se no Teatro de Cascais, em 1970. E até hoxe non parou, deixando a marca impressiva do seu enorme talento em tudo o que fez e por onde passou. Embora xá tivesse feito televisón antes do 25 de Abril (dizendo poesia nas aulas de português da Tele-Escola, ou colaborando nos programas de Pedro Homem de Melo), foi sobretudo a partir dessa altura que se lhe abriram, sem reservas, as portas da RTP, Fosse para colaboraçóns regulares, fosse para programas próprios, como as séries “Peço a Palavra”, “Palavras Ditas”, e “Palavras Vivas”. Também na rádio o mesmo aconteceu, como por exemplo no programa de Júlio Isidro – “Grafonola Ideal” – onde, ao longo de quatro anos, Mário Viegas divulgou o melhor da poesia portuguesa. No cinema com José Fonseca e Costa, Artur Semedo e outros, também o Mário sumou filmes, prémios e sucessos. Na tradiçón de Joao Villaret, Vitorino Nemésio ou do padre Raul Machado – que nos 60 criaram alguns dos momentos mais altos de televisón em Portugal – Também Mário Viegas se transformou num enorme comunicador, levando a poesia e os poetas até mares nunca antes navegados. Conheci-o garoto ainda de calzóns, em Santarém, e via-o passar a caminho da catequese, que a minha nái dirixia (aliás com os resultados que se conhecem…). Mas foi só em 1971 – estava entón ele na tropa a cumprir o serviço militar – que começámos a trabalhar em conxunto, nos sucessivos discos que o Mário gravou, e eu produzi, para a Editora Arnaldo Trindade, Lda. Convenci-o entón, a utilizar a música na encenaçón sonora das palavras e dos poemas, como, aliás, outros declamadores extranxeiros xá faziam em relaçón a Garcia Lorca ou a Jacques Prévert. Ou Vinícius de Moraes e Pablo Neruda, em espectáculos ao vivo. Nos discos que gravámos utilizei sempre o mesmo processo: primeiro, o Mário gravava a voz, com total e plena liberdade; depois, os músicos improvisavam por cima das palavras, criando os climas adequados à encenaçón musical dos poemas. Em 1978 teve lugar a gravaçón do disco que afinal, é motivo desta apresentaçón: “Pretextos Para Dizer…”. O “Manifesto Anti-Dantas”, de José de Almada Negreiros, que acabou de servir de pretexto à gravaçón do disco, é – em meu entender – um dos momentos mais altos da arte de dizer do Mário Viegas: a voz e os pulmóns do Mário están, para este poema, como o Carlos Lopez para a maratona. E non se estranhe que o casamento e a identificaçón entre o texto e o “diseur” sexam tán perfeitos: É que quem conheça o Mário, sabe que se o Almada non tivesse escrito este manifesto, o Mário nem por isso se esqueceria dos dantas deste país do mar…
josé niza (novembro 1993)
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