POPPER (AUTOBIOGRAFIA INTELECTUAL)

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               Na sua Autobiografia Intelectual, Popper afirma que, logo na sua mais tenra xuventude, o seu espírito sofreu o impacto de dous acontecimentos decisivos, que iriam configurar para o resto da sua vida os pilares do seu pensamento; o da filosofía da ciência e o da filosofía social e política.  Estes dous acontecimentos foram, por um lado, a publicaçón da Teoría da Relatividade de Einstein e, por outro, os gráves conflictos políticos produzidos no fim da Grande Guerra.  Nos próximos capítulos, centrar-nos-emos na sua importância no pensamento de Popper.  Aqui só referiremos com brevidade o que significaram na biografía intelectual do nosso autor. Relativamente ao primeiro destes acontecimentos, Popper conta-nos que o essencial da sua filosofía da ciência tornou-se-lhe claro para sempre quando teve conhecimento da descoberta da Teoría da Relatividade, e do que isso significava non só enquanto inovaçón científica, mas também como fonte de inspiraçón de unha metodoloxía xeral das ciências.  O segundo pilar do pensamento de Popper, a sua abordaxem social e política, foi inspirado pela experiência pessoal:  conta-nos ele que, aos doze anos, descobriu na biblioteca do pai os textos de Marx e se tornou um marxista entusiástico, para se transformar num antimarxista declarado aos 17 anos (e até ao final da sua vida), devido a outra experiência pessoal.  Nos meses que se seguiram à queda do Império Austro Húngaro, Viena viu-se diariamente axitada por confrontos violentos entre o governo e os movimentos radicais de esquerda, em especial comunistas, com que o xovem marxista Karl se identificava.  Os comunistas e os seus aliados, alentados pelo éxito da  Revoluçón Soviética um ano antes, xulgaram ter chegado o momento de impulsionar um processo semelhante na Áustria – a destruiçón da “ordem burguesa” e a implantaçón da “dictadura do proletariado” – e estavam dispostos a consegui-lo, se necessário fosse, através da violência e sem ter em consideraçón os sacrifícios humanos que isso pudesse envolver, inclusive nas suas próprias fileiras.  Presumia-se que a luta de classes e a promoçón do ideal socialista estavam acima de qualquer interesse individual. E foi assim que, num motim de rua em que os dirixentes comunistas incitarom de forma dissimulada o grupo de esquerdistas a que Popper pertência a enfrentarem-se desarmados à polícia, houve vários mortos, alguns deles amigos achegados de Popper; com este sacrifício, e perante tal inxustiça, previa-se unha insurreiçón xeral da classe operária de Viena, que  non chegou a acontecer.  Ésta traxédia deixou marcas profundas em Popper.  Compreendeu que nenhum programa político, nenhum ideal social, podia xustificar o sacrifício de pessoas de carne e osso.  Non é a classe social (ou qualquer outra entidade supraindividual, como o Estado) que está acima do indivíduo, pelo contrário, é o indivíduo que deve ter a primazia sobre a classe social ou qualquer outro conxunto.  O que o xovem Popper compreendeu com esses acontecimentos terríveis foi o risco envolvido em tentar reformar a sociedade através da violência.  Aquilo que rapidamente conduzirá ao fim das inxustiças sociais non é a “grande revoluçón”, mas unha política cauta e reformista de pequenos passos, o que Popper denominaria, muito mais tarde, como “enxenharia social”.  Ainda voltaremos às consequências teóricas que Popper retirou da sua experiência política pessoal.

c. ulises moulines

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