Arquivos diarios: 20/09/2018

HEIDEGGER (PREÂMBULO)

.

               A obra de Heidegger non está concluída.  A sua publicaçón aínda terá de esperar alguns anos até estar completa.  Entretanto, essa obra viveu diversas recepçóns, algunhas estranhas entre sí.  Practicamente todas as correntes filosóficas do século XX, da fenomenoloxía, do existencialismo e do marxismo, até ao estructuralismo, ao deconstrucionismo de Derrida e até mesmo à filosofía analítica, passaram por Heidegger, quase transformado em ponto de partida ou de chegada ao que aquele século chamou filosofía.  O seu pensamento despertou de modo igual tanto a admiraçón e a veneraçón como unha profunda rexeiçón, até chegar a ser considerado um expoente destacado do mal (nazismo, antissemitismo, reacionarismo).  Pelo meio, surxe sempre a questón se esse mal se limitava à personaxe, ou se englobava também a sua obra.  Nestas condiçóns, que imaxem se pode oferecer da sua filosofía?  E, além disso, como fazê-lo quando a personaxe se antepón à sua obra, aparecendo sob diversas poses: a do deslumbrante professor universitário, clarificador de posiçóns filosóficas, políticas e teolóxicas extremas, ao nazi fardado; do seductor de estudantes ao finxido camponês de gravata; do solemne conferencista ao suspeito antissemita?  Neste paradoxo xá se vislumbra a anomalía inseparável do nome  “Heidegger”:  um clichê no qual se confunde a lucidez teórica com a expresón disfarçada da persoaxem.  Heidegger vê-se associado tanto ao último grande nome da vasta tradiçón que vai de Platón e Aristóteles a Kant, Hegel e Nietzsche, como à grandiloquência do profecta que sussurra evocadoramente unha nova história, arraigada, no entanto, à terra natal.  Talvez a aura da  personaxem tivesse vindo também a reflectir de forma confusa sobre o irresolúvel conflicto do seu tempo, que oscilava perigosamente entre a tradiçón e a sua destruiçón.  Nesse sentido, o filósofo veio dar, de novo, voz à sua época e ser reflexo de um público para quem a reflexón consciente (ou sexa, a filosofía) nada podía contra a história, cuxo curso avançava como se fosse unha força autónoma e imparável da qual se podía esperar qualquer resultado. E o resultado chegou sob a forma de catástrofe mundial:  Heidegger elaborou o núcleo da sua obra, aquilo que o elevou a figura principal da filosofía, entre as duas guerras mundiais que representaram o último adeus à história e à cultura europeias, definitivamente transformadas em ruínas ao chegar 1945.  Se contra a personaxem pesa como um fardo a condenaçón de ter contribuído com a sua filiaçón política para o nazismo e de ter vinculado a sua biografía ao desastre xeral, pode perguntar-se se esse desastre non arrastou a própria filosofía na sua última grande apariçón épica, que foi precisamente a da sua obra. No cúmulo do paradoxo, como se se tratasse de unha grande encenaçón tráxica, a obra da personaxem suspeita aparece, por outro lado, cheia de unha lucidez inusitada para iluminar o seu próprio tempo – até as ruínas – ao formular propositadamente, como marca da sua filosofía, um discurso extemporâneo, porque dá por adquirido que “a pergunta pelo sentido do ser”, apresentada como início e núcleo do seu pensamento, non soava contemporânea, mas antiga e ultrapassada. Mas sê-lo-ia?

arturo leyte