Arquivos diarios: 19/10/2017

VERDADE SUBJECTIVA

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.               “Em Kierkegaard dá-se a particularidade de o pensamento se ter formado menos por assimilaçón de elementos estranhos que por aprofundamento contínuo da própria personalidade, por unha consciência cada vez mais lata e exigente das condiçóns, non xá da sua existência em xeral, mas do seu próprio existir”.  A verdade non é algo que se pensa, mas que se vive na própria existência individual, subjectiva.  Non se pode compor á força de estudo livresco, compoê-se no existir real.  A expressón dessa verdade non pode ser mais que unha observaçón exacta e honesta da própria interioridade:  “Toda a obra xira sobre mim mesmo, única e exclusivamente sobre mim mesmo” (Pós-Escripto).  Neste ponto encontramo-nos muito perto do “Ensaios” de Montaigne, para quem “o pior estado do homem dá-se quando perde o conhecimento e o governo de si mesmo”.  A consciência da própria existência coincide com esta mesma existencia.  É unha consciência interior que leva a compreender a própria existência a partir de dentro, non de fora, teoricamente, como se fosse um objecto como os outros.  Este é precisamente o erro do racionalismo, que ao objectivar a subjectividade faz desaparecer a existência.  Non há um hiato entre o ser e o saber, os dois están fundidos.  A diferença entre  verdade subjectiva e objectiva pode ser ilustrada pelo uso do verbo “acreditar” com e sem preposiçón.  Pode acreditar-se que a alma é imortal, unha alternativa á possibilidade de ser mortal;  Sócrates acreditava na imortalidade da alma,  por isso aceitou tomar cicuta depois de ser objecto de um veredicto injusto e aguardar a morte conversando tranquilamente com os discípulos acerca da imortalidade.  Se alguém nos diz que acredita que Deus existe (ou que non existe) só nos comunica unha ideia;  se disser que acredita em Deus está a envolver-se pessoalmente.  “Acreditar” é, nestes exemplos, algo meramente intelectual,  um saber que non compromete o ser;  “acreditar em si” implica a totalidade da pessoa, porque representa unha verdade subjectiva que dá alento e impulso.  Em algunhas questóns procura-se a verdade subjectiva: a morte, casar-se, o modo de vida que se escolhe, admitem tratamentos “objectivos”, mas, pelas suas profundas implicaçóns para a pessoa, o que requerem é a procura de unha verdade subjectiva.  Os epicuristas do período helenístico diziam que era absurdo preocuparmo-nos com a morte, porque quando estamos ela  non está e, quando ela está non estamos nós.  É um argumento muito sensato, muito sóbrio, muito claro.  Mas quem pode ficar satisfeito com a sua assepsia? Non está muito mais perto da alma humana, da sua verdade subjectiva, o desabafo de Miguel de Unamuno: “Non quero morrer, non, non quero, nem quero querê-lo;  quero viver sempre, sempre, sempre, e viver eu, este pobre eu que son e me sinto ser aqui e agora, e por isso me tortura o problema da duraçón da minha alma, da minha.”?

joan solé

O GALITO

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.              O “Galito”, segue em frente, marcando o passo firme.  Desta vez, xá son demasiados clientes, ruidosos, optimistas, doutores a quem a confusón desta vida, lhes acarrea prosperidade material.  Menos mal, que o chefe me conheceu, e nos improvissou um lugarinho discreto, alí nunha esquina.  Foi unha “Açorda de Bacalhau” de primeiro, seguida de “Febras de Porco Preto Alentejano no espeto, acompanhadas de patacas fritas, manga e “Pan de Rala”.  Se todos puideram comer así, seria um adeus definitivo á fame no mundo.

léria cultural

O CHOQUE COM A SOCIEDADE

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              Era provavelmente considerado unha personagem um pouco excêntrica devido ás suas ideias radicais, e sem dúvida que era conhecida a autoria das suas obras pseudónimas, mas após o tumulto que a ruptura com Regine Olsen causara.  Kierkegaard vivia tranquilamente em Copenhaga, onde dava passeios quotidianos e conversava com pessoas de todas as orixens que encontrava na rua.  Esta vida pacata acabou em 1846, devido a um conflicto aparentemente absurdo.  Um crítico literário publicou unha resenha de “Estádios no Caminho da Vida” na qual non deu mostras de ter entendido o livro e, em todo o caso, non o elogiou.  Kierkegaard replicou com um artigo num xornal, em que relacionava o crítico com unha revista satírica do momento, “O Corsário”, publicaçon semanal que ridicularizava personagens públicas da sociedade dinamarquesa, mas que até enton non se metera com ele porque o seu director o respeitava.  No artigo de réplica, Kierkegaard desafiou sarcasticamente a revista que o transformará no alvo dos seus.  Non devia ter-se mostrado tan ofensivo.  No início de 1846, começaram a aparecer em “O Corsário” caricaturas que o apresentavam como unha personagem disforme, corcunda (os anos tinham acentuado a deformaçon das suas costas).  Com pernas de extensón desigual que lhe causavam um andar irregular, ou sexa, no conxunto, como unha figura desconcertante. Embora o semanário tenha deixado de ser publicado em outubro daquele mesmo ano, o prexuízo que causou a Kierkegaard foi enorme; transformou-o num motivo de chacota.  Muitos reconheciam-no pelas caricaturas satíricas e riam-se dele quando o viam na rua.  O autor, que provocara a sua própria ruína ao desafiar “O Corsário”, de repente perdia um dos seus grandes prazeres, que era passear pela sua cidade.  Non tardou a transformar a amargura por esta situaçon desagradável nunha intensa consciência de martírio, á semelhança do que Cristo padedera.  Reforçou a sua convicçon de ser um indivíduo isolado em confronto com as massas,  sem mediaçon possível entre  os dois termos.  O patronímico Sorensen (“filho de Soren”) é um dos apelidos mais comuns na Dinamarca.  No entanto, o nome Soren, que em tempos também foi dos mais vulgares do país, quase deixou de se usar depois da campanha difamadora de “O Corsário”.  O incidente tornou-o um nome maldito.  

joan solé