Arquivos diarios: 08/10/2017

A RELAÇON COM A AMADA

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               Em agosto de 1841, chegamos ao segundo acontecimento:  Soren rompe o noivado que assumira onze meses antes com a novíssima (dezoito anos, menos nove que ele) e bela Regine Olsen, filha de um alto funcionário do Estado dinamarquês. Depois de, em 1837, se apaixonar pela rapariga de catorze anos, levara mais de dous a conquistar o afecto da xovem, que xá estava noiva, e da família.  Assim que obteve a sua man, Soren caiu na mais profunda melancolia.  Compreendeu que non estava feito para o casamento e que faria Regine profundamente infeliz, embora a amasse profundamente.  Estes onze meses foram o único período na vida de Kierkegaard aparentemente orientado para a respeitabilidade pública:  preparava-se para ser um homem de bem, útil á comunidade, para “realizar o universal” característico de unha vida ética.  Comunicava diariamente com Regine, escrevia-lhe e enviava-lhe presentes, dava passeios com ela, xantava frequentemente com a sua em breve família por afinidade, tan devota como a sua, e preparava-se no seminário para ser pastor.  Mas o destino de Kierkegaard era claramente outro, e ele sabia-o com crescente certeza.  Depois de unha intensa correspondência, com cartas demasiado literárias, decidiu pôr fim ao noivado.  Sabemos pelas anotaçons do seu diário como sofreu com a decisón, a que ponto chegou a torturar-se.  Mas de nada valeran as súplicas iniciais de Regine, nem as do pai dela.  Simulou ser vil e insensível para ser mais fácil á xovem aceitar a ruptura.  Atendendo á honra de Regine. e prevendo a inevitável maledicência da pequena Copenhaga, Soren propôs primeiro que anunciassem que fora a rapariga a romper o noivado; como ela se negou a representar o papel, simulou ser um homem cruel e depravado, entregue aos prazeres sexuais, para carregar ele o opróbio.  Consumada a ruptura, Kierkegaard partiu de imediato para Berlim, onde assistiu, durante quatro meses, a aulas na Faculdade de Filosofia e escreveu grande parte do seu voluminoso livro “Ou-Ou”.  Depois daquele noivado romântico e infeliz,  Regine reatou a relaçon com o seu primeiro pretendente, antigo tutor e xá entón destacado advogado e funcionário que abandonara quando Soren aparecera, e que, ao contrário deste,  seria capaz de desempenhar devidamente as funçons de esposo maduro, responsável e de confiança.  O anúncio do novo noivado, passados dous anos sobre a ruptura, foi um rude golpe para Kierkegaard;  perdido na abstraçon ensimesmada das suas emoçons, foi, por fim, envolvido pelo princípio de realidade.  A interrupçon do noivado obcecou Kierkegaard para o resto da vida, com diversos graus de intensidade conforme a época.  A relaçon aparece recriada em “Diário de um Seductor” e “A Repetiçon”, duas histórias de relaçons infelizes, embora com significados muito diferentes; apresentada na perspectiva do D. Juan no primeiro relato e na óptica de unha posterior crise religiosa no segundo.  Muitas conjecturas se fizeram sobre as causas da ruptura.  Alguns psicanalistas freudianos aplicaram os seus esquemas ao caso. Era apenas encaixar as peças: pai intensamente melancólico, dominante e ao mesmo tempo lascivo, filho dissoluto que volta a casa, com um carácter latente ou xá patentemente obsessivo e possíveis disfunçons fisiológicas reforçadas por unha rexeiçon visceral da parte física da sexualidade, tudo isso sublimado numa religiosidade cada vez mais desconcertante.  O hipotéctico freudiano poderia emitir aqui o seu veredicto de neurose incurável, e interpretaria todo o pensamento do autor como manifestaçon desses traumas, xá houve mais de um que assim o fez.  Unha leitura non psicanalítica de Kierkegaard non irá tan lonxe:  terá em conta todos os aspectos traumáticos da sua vida como unha das causas do seu pensamento, mas non o reduzirá a mero sintoma ou manifestaçon de unha neurose.  Há entre as vivências e as ideias do dinamarquês sobreposiçon, mas também desaxustamento e é por esse desaxustamento que entram a sua sensibilidade, intelixência e espiritualidade.

joan solé