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As crenças religiosas de Kierkegaard assentavam no cristianismo luterano, primeira manifestaçon histórica da Reforma protestante, iniciada pelo monge agostiniano Martinho Lutero na primeira metade do século XVI. Os fundamentos doutrinais do luteranismo son a ênfase na natureza pecaminosa e corrupta do homem, na sua abissal distância a Deus e na enorme compaixón de Cristo ao assumir o peso dos pecados humanos. Ao contrário do que se afirma na confissón católica, a salvaçon pessoal depende da fé (confiança absoluta) na graça divina, non nas obras, xá que estas poderiam incutir vaidade. Quanto á Igrexa, o aspecto fundamental do luteranismo é limitar a sua intervençon na vida espiritual dos crentes, visto afirmar que é a relaçon pessoal e directa com Deus que é decisiva, prescindindo da mediaçon eclesiástica. O fundamental é o contacto com Deus através do Cristo descrito no Novo Testamento. O papel do clero, dos santos e dos teólogos fica reduzido ao mínimo perante esta relaçon básica. O pai de Kierkegaard assistia com regularidade aos ofícios e aos encontros dos Irmáns Morávios, comunidade protestante fundada no século XVI na Boémia, actual República Checa. Os Irmáns Morávios sublinhavam o sofrimento físico e a humilhaçon moral de Cristo, as feridas que lhe foram infrigidas na crucificaçon, em suma, os padecimentos que sofreu para redimir a humanidade. Ao sublinhar o carácter explícito e carnal do culto a Cristo, os Morávios tentavam despertar a compaixón e o arrependimento dos seus seguidores. Esta postura tétrica estava de acordo com a profunda melancolia que dominou Michael Pederson na maturidade, e que provavelmente até a tornou mais intensa. Non há dúvida algunha de que tudo isto se repercutiu directamente no xovem Soren, que, ao recordar mais tarde os anos de formaçon, escreveu: “Em criança recebi unha educaçon cristán severa e ríxida. Do ponto de vista humano, foi unha educaçon de unha imensa insensatez. Unha criança – que loucura – disfarçada de velho melancólico! Horrendo! Non é de estranhar por isso, que o cristianismo me parecesse ás vezes a mais desumana das crueldades”. Numa entrada de 1846 do seu diário reflete: “O maior perigo para unha criança no que respeita á relixión, non é que o seu pai ou o seu professor sexam descrentes, nem sequer que sexam hipócritas. Non, o perigo é que sexam pios e temerosos a Deus, e a criança estexa convencida disso e ainda assim pressinta que no fundo há um terrível desassossego oculto. O perigo é que a criança sexa levada a concluir que Deus non é amor infinito”. Há convicçóns fundamentais no cristianismo de Kierkegaard que determinan o conxunto do seu pensamento. Deus non pode predestinar o homem de forma a arrebatar-lhe a liberdade, o acto de fé é livre, o Deus dos cristáns é pessoal, transcendente e alcançável através de um empenho moral intenso, mais que pela piedade mística espontânea.
joan solé
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