Arquivos diarios: 24/09/2017

SOREN KIERKEGAARD (O PRIMEIRO EXISTENCIALISTA)

      A DIMENSÓN INTERIOR

INTERIORIDADE SUBJECTIVA: O INDIVÍDUO CONCRETO IRREDUCTÍVEL AO CONCEITO.

               Soren Kierkegaard é um dos pensadores que mais iluminaram, em qualquer momento da história, a dimensón interior humana, só por isso a humanidade xá contraiu com ele unha dívida impossível de saldar.  Mas que devemos entender por essa interioridade?  Nada etéreo nem metafórico, non unha figura retórica adequada para poesía lírica, mas um estracto existencial muito real, embora non quantificável nem reductível a fórmulas científicas ou conceptuais.  Conforme ao extremamente recomendável hábito filosófico de non dar nada por garantido e questionar tudo desde o início, como novidade substâncial e radical do pensamento.  O contraste entre o mundo biológico e esta outra realidade pode axudar-nos a encontrar a perspectiva adequada.  Os arenques son peixes azuis que formam grandes cardumes no norte do oceano Atlântico e no mar Báltico. Alimentam-se de plâncton e de animais pequenos.  A sua desova primaveral tinge o mar de branco, dando-lhe unha textura leitosa, devida ao grande número de ovos.  Os predadores – leons-marinhos, focas, garças e gaivotas – abalançam-se sobre os ovos e engolem a maior parte;  calcula-se que sobreviva um arenque por cada dez mil ovos.  Estes sobreviventes depois de serem pescados pelo homem, son curados com sal e depois demolhados para,  condimentados com cebola, alho ou mostarda, serem consumidos acompanhados de pan ou batatas. Ora bem, do ponto de vista  do desmesurado universo, isto é, de unha perspectiva exterior, haverá alguma diferença substâncial entre um arenque e um ser humano?  Ambos son organismos vivos pequenos, que realizam funçons biológicas durante um brevíssimo intervalo de tempo entre duas eternidades, duas pequenas partículas de pó, duas gotas de água num mar infindo.  Obviamente, há unha diferença qualitativa: maior complexidade de um cérebro mais desenvolvido, mais capacidade cognitiva e figurativa, etc.  Mas, do ponto de vista do universo, isto é tan insignificante que nem vale a pena mencioná-lo.  No entanto, nenhuma pessoa que non sexa profundamente niilista admitirá unha equivalência entre o arenque e o ser humano.  Non a admitirá por dignidade, por amor a outras pessoas e pelo desexo de que a vida tenha um sentido transcendente.  Se desexar argumentar a negaçon desta equivalência é muito provável que acabe por se aperceber de que a diferença básica entre arenques e seres humanos é que os primeiros están condenados a ser unicamente, para sempre, pura exterioridade, enquanto os seres humanos têm a possibilidade de ser além de exterioridade, interioridade: consciência, reflexòn.  O arenque só pode viver fora de sí, entre as coisas e as situaçons, o ser humano no seu foro interno, aspíra a evitar as determinaçons imediatas de forma a construir valores e a captar sentidos.  Kierkegaard assumiu como tarefa da sua vida compreender o carácter humano tal como o entendia: na sua dimenson  interior, na sua singularidade irreductível a conceitos; desexava alcançar a realidade essencial do humano na sua existência particular e concreta, como um eu vivo no tempo e aberto á transcendência, para além do biolóxico, do político do económico e do histórico.  Houve poetas capazes de penetrar e ver até estractos muito profundos da interioridade humana:  Shakespeare, Rilke, e alguns mais “chegaram lonxe” em muitos momentos.  Alguns pensadores penetraram em zonas recônditas da alma, cada um pelos seus trilhos pessoais:  Montaigne pelo naturalista, Nietzsche pelo dos valores, Schopenhauer pelo intuitivo… Kierkegaard abre um caminho pessoal na espiritualidade, que o levará a situar o ser humano, livre e responsável perante o absoluto transcendente na sua dimensón interior; a que lhe é mais própria e consubstancial. 

juan solé