Arquivos diarios: 12/09/2017

SOBRE A POLÍTICA DO MEDO (XXI)

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               O medo deu muito que falar a políticos e filósofos.  Son conhecidas as palabras que o presidente Franklin D. Roosevelt pronunciou no seu primeiro discurso de tomada de posse a propósito do “New Deal” que haveria de tirar o seu país da pior crise económica do século XX: “A única coisa que se deve temer é o medo em sí.  O terror indescriptível, irracional, injustificado, que paralisa os esforços para transformar o retrocesso em avanço”.  Pelo contrário, um dos primeiros pensadores a apontar que o medo pode ser benéfico em política foi Nicolau Maquiavel.  Este estadista florentino recomendava aos príncipes renascentistas que, se tivessem de escolher, preferissem que os seus súbditos os temessem a que os amassem.  Dava muitos motivos para isso, mas um dos mais importantes é que o temor é um sentimento que se pode controlar a partir do poder e non requer qualquer tipo de reciprocidade, como acontece com o amor.  Além disso, vereficava que os seres humanos mais depressa traem quem amam do que quem temem.  O verdadeiro núcleo do pensamento hobbesiano poderia resumir-se em que o medo é a emozón política por antonomásia  Na sua concepzón da natureza humana, erige-se como a mais poderosa das nossas paixóns, especialmente na forma de medo da morte.  É assim o único meio fiável (e nisto concorda com Maquiavel) para coagir e garantir o cumprimento das ordens.  Do medo do caos, Hobbes faz emanar a origem da sociedade e o poder do Estado; do medo do castigo, a autoridade e o respeito pela lei.  Cultivar o medo contribui tanto para a submissón dos súbditos como para a ordem da sociedade.  Ao contrário de Maquiavel (mas de forma coerente com as suas teses), Hobbes dirige-se ao cidadán para lhe mostrar que o medo é protector, que graças a ele entendemos a necessidade de organizar um Estado e, obedecer a uma autoridade soberana.  Neste sentido, Hobbes prefere-nos temerosos a temerários.

 

ignacio iturralde blanco