HOMENS QUE SON LOBOS (XVI)

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               Francisco Victoria deixou escrito:  “Non enim homini homo lupus est, ut ait Ovidius, sed homo.”  Isto é, ” o homem non é o lobo do homem, como diz Ovídio, mas é o próprio homem.”  Este jurista espanhol do Renascimento, muito lido por Grotius e decerto por Hobbes, refere-se á obra mais universal de Ovídio, Metamorfoses (onde, por sinal, non aparece a famosa passagem de hobbes que vamos comentar seguidamente).  Lá se relata aquela que é considerada a primeira transformazón de um homem em lobo, na carne de Licáon: “Aterrado ele foge e alcançando os silêncios do campo/  uiva e em van falar tenta; de si mesmo/ obtém a sua boca a raiva, e o desejo da sua acostumada matança/  usa contra o gado, e agora também do sangre desfruta./  Em pelos se transformam as suas roupas, em patas os seus braços:/  faz-se lobo e conserva os vestígios da sua velha forma./ A carnície a mesma é, a mesma a violência do seu rostro,/  os mesmos olhos luzem, a própria imagem da ferocidade ele é”.   É obrigatório falar de lobos ao apresentar o pensamento de Thomas Hobbes.  Mais concretamente, há que comentar a passagem de De Cive pela qual muitas pessoas o recordam.  Referimo-nos ao já mencionado “homo homini lupus est”:  “O homem é o lobo do homem”. Antes de mais, uma advertência a todos os que van repetir esta frase celebérrima.  Convém sermos prudentes.  Na verdade, o que Hobbes pretende quando a usa é contrapor duas máximas da antiga Roma:  “Para falar imparcialmente, estes dois preceitos son muito verdadeiros: que o homem é uma espécie de deus para o homem e que o homem é um autêntico lobo para o homem.  O primeiro é verdade se comparamos uns cidadans com outros, e o segundo se comparamos cidades” (De Cive, dedicatória).  Além disso, o autor deste aforismo pessimista é, na verdade, o romano Plauto (254 a.C.- 184 a. C.), que, na sua Comédia dos Burros, assegura pela boca de uma das personagens que aqueles que non conhecemos son para nós mais parecidos com lobos que com pessoas.  E o bom senso parece corroborá-lo, como testemunham as inúmeras advertências diariamente repetidas aos mais pequenos: “os desconhecidos podem ser perigosos.  Non, é prudente confiar neles, e muito menos aceitar os seus caramelos, sobretudo se forem grátis”.

 

ignacio iturralde blanco

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